sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Colapso econômico e empregos ambientais

Por Carlos Gabaglia Penna em 08/01/2009
Fonte: O Eco

A grande preocupação dos governos, diante da crise econômica, é com os empregos. É compreensível que essa seja a prioridade, embora eu desconfie que os políticos, secretamente, estejam realmente preocupados é com a queda na receita de impostos, os quais sustentam verdadeiras máquinas de desperdício de dinheiro público. No Brasil, isso é flagrante.

As primeiras medidas adotadas pelos governantes visam estimular o consumo, o máximo possível e de qualquer coisa (pouco importa se útil ou não). Entre essas medidas encontra-se o incentivo à compra de carros, uma iniciativa irrefletida, pois a fabricação de automóveis emprega bem menos operários por unidade de investimento do que vários outros segmentos econômicos mais sustentáveis.

O governo brasileiro retirou os impostos dos carros mais baratos, naturalmente com o objetivo primordial de entulhar de vez as ruas das médias e grandes cidades brasileiras. Para os políticos brasileiros e, pelo jeito, para uma porcentagem expressiva da população, a poluição do ar das grandes cidades e a sua contribuição ao efeito estufa são questões desprezíveis, assim como as muitas milhares de horas mensais de trabalho perdidas em engarrafamentos e os decorrentes custos econômicos e de saúde pública.

Esse modelo de desenvolvimento, que é ainda perseguido praticamente no mundo todo, baseado no consumo intenso (e crescente) de mercadorias industriais, é claramente insustentável e apresenta uma relação custo-benefício bastante desfavorável, pois é baseado na produção de bens com alta demanda de recursos naturais e baixa oferta de empregos.

É fácil ilustrar o equívoco das políticas destinadas a minimizar o desemprego. Por causa do enorme aumento de produtividade por trabalhador, a indústria manufatureira norte-americana, por exemplo, perdeu 9% dos seus empregos entre 1967 e 2001, mas no coração da produção industrial do país – o nordeste e o meio-oeste – a perda ultrapassou os 40%. Será que nesse período a economia americana sofreu recessão? Longe disso, expandiu-se em mais de 183%.

Esse processo é muito similar ao declínio histórico da mão-de-obra no campo, no qual um número cada vez menor de pessoas é responsável por uma produção crescente de alimentos. Apesar de variadas questões econômicas também influenciarem o mercado de trabalho, o fato é que o desenvolvimento tecnológico tem proporcionado às empresas a oportunidade de aumentar o lucro enquanto reduzem o contingente de trabalhadores. No último terço do século XX, a indústria norte-americana perdeu 2,5 milhões de empregos.

Em 2006, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) anunciou que o desemprego afetava 192 milhões de trabalhadores, apesar da expansão de 4,3% da economia global. Se o sub-emprego for também considerado, esse montante sobe para cerca de um bilhão de pessoas.

Um das poucas e melhores opções para se reduzir as conseqüências dessa mazela social é a criação de “empregos ambientais”. Investimentos na proteção do meio ambiente, além de vários outros benefícios óbvios, promovem uma grande demanda de mão-de-obra, em geral mais duradouros do que os empregos em outros setores da economia.

Medidas de proteção contra os impactos do aquecimento global envolvem investimentos de larga escala em novas tecnologias, equipamentos, imóveis e infra-estrutura, criando grandes oportunidades para a manutenção e a transformação dos empregos existentes.

As indústrias de energia renováveis estão entre as de maior crescimento do setor industrial. A de energia eólica emprega, no mundo, em torno de 300 mil trabalhadores, a de energia solar fotovoltaica 170 mil e a solar térmica acima de 600 mil. Mais de um milhão de empregos são encontrados na florescente indústria de biocombustíveis.

A climatização de imóveis, ou seja, a adaptação das construções a sistemas e métodos que aumentem a eficiência energética, executada em 200 mil apartamentos da Alemanha, entre 2002 e 2004, criou 25 mil novos empregos e ajudou a manter 116 mil postos de trabalho existentes.

Como bem lembra o Worldwatch Institute em uma de suas publicações, o setor de transporte é uma das bases da economia moderna e, naturalmente, uma das principais causas de degradação do ambiente natural. Apesar disso e do fato de que representa apenas 3,1% dos empregos no setor automobilístico mundial, a mão-de-obra na fabricação de veículos relativamente verdes (híbridos, elétricos) utiliza aproximadamente 250 mil profissionais e encontra-se em notável expansão.

Prevê-se que a substituição, em 2009, de 6.100 velhos ônibus poluentes por outros movidos a gás natural comprimido (ônibus híbridos-elétricos), em Nova Delhi, Índia, criará 18 mil novos empregos.

Na área de reciclagem e refabricação, milhões de empregos são criados, no mundo inteiro. Calcula-se que na China cerca de dez milhões de pessoas trabalhem nessas atividades e, nos Estados Unidos, mais de um milhão. No Brasil, que apresenta um dos mais altos índices de reciclagem de latas de alumínio, estima-se que cerca de 170 mil pessoas trabalhem na coleta desse material e 500 mil no setor de reciclagem como um todo.

A produção de alimentos em áreas urbanas reduz expressivamente o custo e a quantidade de desempregados nas cidades, além de utilizar bem menos produtos químicos e evitar o transporte de média e longa distâncias, reduzindo assim a emissão de gases e partículas na atmosfera. Cuba criou 160 mil empregos nesse setor nos últimos anos.

Muitas outras atividades de conservação da qualidade ambiental e, consequentemente da qualidade de vida humana, requerem, de forma crescente, novos trabalhadores. Embora a agricultura orgânica ainda seja limitada, é uma atividade que demanda intensivamente mão-de-obra.

Além da citada produção urbana de alimentos, tratamento de efluentes, controle de poluição atmosférica, reflorestamento e arborização urbana estão também em alta. Mais de um bilhão de pessoas depende de atividades florestais não-madeireiras.

Os esforços para se enfrentar o fantasma do desemprego devem ser concentrados na área ambiental. Para tanto, não é necessário mais do que vontade política e um pouco de imaginação...

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