quinta-feira, 5 de junho de 2008

Dia Mundial do Meio Ambiente e a situação do Brasil

Por Sabrina Domingos, do CarbonoBrasil
Apesar de sermos um exemplo para um mundo em termos de produção de energia limpa, o Brasil fica entre os maiores emissores de gases do efeito estufa do mundo devido ao desmatamento. Nos últimos 12 meses, a Amazônia perdeu 9.495 quilômetros quadrados - o equivalente a mais de seis vezes a área da cidade de São Paulo. Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que, só no último mês de abril, foram desmatados 1.123 quilômetros quadrados.
Outro bioma fundamental, a Mata Atlântica, conta com apenas 7,26% da cobertura original no Brasil. Estudo da Fundação SOS Mata Atlântica e do Inpe indica que a alta taxa de fragmentação florestal ameaça a biodiversidade no país. Santa Catarina, Minas Gerais e Bahia são os estados que mais desmataram no período de 2000-2005, em números absolutos. (Leia matéria com os resultados do “Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica”).
Além de ameaçar a diversidade de espécies, a derrubada e queimadas de florestas, altera significativamente o equilíbrio climático do planeta. As chuvas que caem na região Sul do Brasil, por exemplo, são resultantes da água proveniente da Amazônia. Todos os dias milhares de toneladas de vapor de água migram do Norte do país em direção ao Sul. Essas correntes de ar que carregam a umidade da Floresta Amazônica, conhecidas como “rios voadores”, são responsáveis por 44% das chuvas no Brasil. “Os rios voadores podem conter o maior volume de água doce do mundo”, afirma o pesquisador Gerard Moss, que sobrevoa a região avaliando o fenômeno.
O vapor de água liberado pelas árvores, levado pelo vento para o restante do país, influencia a circulação de ar sobre o Atlântico e o Pacífico. Isso faz da Floresta Amazônica uma peça fundamental para o equilíbrio do clima no Brasil. Moss diz que o desmatamento da região já está diminuindo o volume de chuvas em vários locais do país, alterando a características das estações e prejudicando os meios de sobrevivência de muitos brasileiros. (Leia notícia sobre os "rios voadores").

Energia

Com o aquecimento global sendo o grande problema ambietal, social e econômico do mundo nos últimos anos, o Brasil conseguiu se destacar no cenário internacional pela produção de biocombustíveis. Inicialmente apontados como uma alternativa ambientalmente correta para substituir o uso de combustíveis fósseis, agora são acusados de causar alta mundial no preço dos alimentos. Mas, além da questão agrária, a produção de biocombustíveis tem outros obstáculos a superar. Estudiosos questionam se todo o processo de elaboração é ecologicamente adequado. Em alguns casos, o processamento dos vegetais utiliza mais combustíveis fósseis do que as fontes de deveria substituir.
Duas pesquisas publicadas este ano na revista científica Science apontam que cultivo de grãos para a produção de biocombustíveis resulta na emissão de uma vasta quantidade de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. (Leia três matérias da CarbonoBrasil sobre biocombustíveis).

Destino final

Enquanto o Brasil se destaca por iniciativas bem sucedidas, como os projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo em aterros sanitários, que reduzem as emissões do gás metano na atmosfera e ainda geram energia elétrica, os números da quantidade de lixo sem tratamento assustam.
Na Grande São Paulo, o fechamento de quatro aterros clandestinos nesta semana traz à tona a preocupação de que se chegue à situação da cidade de Nápoles, na Itália, tomada pelo lixo. De acordo com a secretaria do Meio Ambiente, mais de 20% dos municípios de São Paulo não têm um local adequado para jogar fora tudo o que é coletado. A estimativa é de que, em média, cada brasileiro gere um quilo de lixo por dia – no total, são 178 mil toneladas diárias, das quais, apenas 140 mil são coletadas. O restante acaba em qualquer lugar, poluindo nascentes e mananciais e trazendo riscos para a saúde da população. Parte do dinheiro para ampliar a rede de esgoto e para construir aterros sanitários poderia vir do próprio lixo. Para isso, seria preciso aumentar a reciclagem, que hoje no Brasil é em torno de 2%. Número que poderia ser aumentado para 30% a 33%, acredita o consultor Sérgio Forini.
“A reciclagem pode representar uma fração importante do total de lixo e resultar em algo útil para o consumo. Todavia, por motivos econômicos e energéticos, o total de reciclagem de lixo não é factível”, afirma o professor da universidade de Vienna, Paul Hans Brunner, especialista na gestão de lixo. A associação sem fins lucrativos Compromisso Empresarial para Reciclagem informa que apenas um milhão de brasileiros têm acesso aos programas municipais de coleta seletiva, um número relativamente baixo diante do tamanho da população brasileira - 183,9 milhões de pessoas. (Leia matéria sobre reciclagem).

Potável

Um dos recursos que mais sofrem com a falta de tratamento adequado do lixo nas cidades brasileira é a água.
Em São Paulo, duas das principais represas que abastecem a cidade estão gravemente afetadas pelo acúmulo de casas às margens dos mananciais e consequentemente pela falta de saneamento básico. Além do esgoto residencial provenientes de loteamentos clandestinos, as fontes costumam receber detritos industriais, o que torna a água imprópria para o consumo, obrigando as empresas de abastecimento a realizarem um pesado tratamento antes de distribuí-la para a população. (Leia matéria sobre o uso de águas subterrâneas como alternativa para o Brasil). "Antes pensávamos que o mundo acabaria com uma bomba atômica, guerras e conflitos armados. Hoje, o mundo acabará pela ação do homem e reação do planeta. A previsão é que se torne um verdadeiro caos se nenhuma providência for tomada em favor do meio ambiente", conclui o presidente da Ecoesfera, Luiz Fernando do Valle.
(Foto: RMA)(CarbonoBrasil)

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