sábado, 29 de novembro de 2008

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Programas antipobreza dão pouca importância à distribuição dos benefícios

Os planos dos países de renda baixa ou média para combater a pobreza priorizam o crescimento econômico e a criação de empregos, mas raramente explicitam estratégias para que esses processos beneficiem mais os pobres. Essa é a conclusão de um estudo que analisou o texto-base de programas de 22 nações em desenvolvimento, todos eles preparados após o lançamento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM, uma série de metas socioeconômicas que os países da ONU se comprometeram a atingir até 2015).

O texto, intitulado “Os ODM são prioridade em estratégias de desenvolvimento e programas de ajuda? Apenas alguns são!”, analisou planos de 14 países africanos, dois da América Latina e Caribe, dois asiáticos, um árabe e dois ex-comunistas.

“Todos os Documentos de Estratégia de Redução da Pobreza enfatizam o crescimento econômico como o principal meio de alcançar o objetivo geral de reduzir a pobreza, mas nem todos especificam políticas de crescimento que favoreçam os pobres”, afirma a autora do estudo, Sakiko Fukuda-Parr, professora de Relações Internacionais da New School University, em texto publicado pelo Centro Internacional de Pobreza, uma instituição de pesquisa do PNUD em parceria com o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

“Embora quase todos os documentos vejam tanto a pobreza quanto o crescimento como prioridades, a maioria não apresenta estratégias para aumentar a produtividade e o emprego, nem para gerar crescimento de uma maneira que assegure que os benefícios sejam mais amplamente distribuídos”, escreve a economista.

O problema desse enfoque, indica Fukuda-Parr, é que parte do pressuposto de que a expansão econômica se refletiria sempre em redução da pobreza. Tal concepção tem raízes em teorias da década de 80 e ignoram as pesquisas mais recentes na área, segundo as quais a pobreza “é mais do que falta de renda; é uma privação multidimensional nas vidas humanas e suas causas repousam não apenas na falta de crescimento, mas na falta de participação, nas vulnerabilidades a choques e em obstáculos a oportunidades”, diz a autora. “O impacto do crescimento da redução da pobreza não é de modo algum automático”, destaca ela, que acrescenta que o crescimento do PIB pode levar apenas a mais aumento de renda da parcela mais rica, e não da mais pobre.

Os planos mostram concepção também em outras áreas, como ao dar ênfase ao emprego, mas não ao trabalho decente - como se o aumento no número de postos de trabalho, por si só, pudesse automaticamente ajudar na redução da pobreza. Dos 22 programas analisados, 21 tomam a criação de empregos como prioridade, mas apenas sete colocam em destaque a geração de trabalho decente e nenhum estipula metas nessa área.

Concepção semelhante aparece em alguns dos 20 planos de países ricos voltados ao mundo em desenvolvimento examinados no estudo. “Há uma forte ênfase no crescimento como o principal meio de reduzir a pobreza. Não é dada muita atenção ao impacto das escolhas da política econômica na distribuição dos benefícios, na criação de empregos e em outros temas pró-pobres”, afirma Fukuda-Parr.

A autora identifica, nesses enfoques, uma pouca atenção às desigualdades. Todos os planos consideram a escola primária uma prioridade, mas só em 17 a igualdade de homens e mulheres no acesso à educação tem o mesmo status. Quase todos os programas (21) colocam a saúde em destaque, mas a ampliação do acesso à saúde e aos medicamentos é sublinhada em apenas nove. Também 21 vêm o respeito à lei como prioridade, mas o direito das minorias é destacado em apenas quatro.

“Poucos Documentos de Estratégia de Redução da Pobreza mencionam a igualdade como um objetivo ou uma preocupação política”, observa a autora. “Essa interpretação dos ODM está longe das metas originais de transformar a globalização em algo mais inclusivo e de implementar princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas”, afirma.

(PNUD)

Públicos estratégicos são chamados para ação em São Paulo

Naná Prado, do Mercado Ético

É na diversidade de públicos que o Global Forum América Latina vem conquistando espaço e ganhando parceiros. Depois do evento de Curitiba, realizado em junho, outros dois encontros - o Call for Action Curitiba e a reunião preparatória em São Paulo - somaram esforços nessa ação coordenada por Rodrigo Rocha Loures, presidente da Federação das Indústrias do Paraná (FIEP).

Na próxima semana, acontecerá em São Paulo o Global Forum América Latina (GFAL) - Call for Action um movimento que tem por objetivo incentivar a criatividade dos participantes para estimular a cooperação entre instituições, organizações e a sociedade em prol de um mundo sustentável, com a perspectiva de que sustentabilidade pode ser também considerada como uma grande oportunidade de negócios. O evento ocorrerá no Centro de Convenções Fecomercio, no bairro da Bela Vista, nos dias 20 e 21.

O Professor Ronald E. Fry, da Case Western Reserve University, de Cleveland, Ohio, coordenará o evento, aplicando a Investigação Apreciativa, metodologia da qual é co-formulador juntamente com o professor David Cooperrider, PhD. A Investigação Apreciativa permite construir um conhecimento em grupo a partir do que há de melhor nas pessoas, na reflexão coletiva, inspirada pela cooperação com um objetivo comum. O método segue quatro passos, a Descoberta (a apresentação de experiências), o Sonho (visualização da situação ideal), o Desenho (concepção de um plano de ação) e o Destino (implementação e início das atividades de transformação).

Os participantes terão mais subsídios para reavaliarem a forma como atuam, seja dentro de suas empresas, instituições de ensino ou organizações sociais, e contribuírem com o fortalecimento das relações entre o mundo acadêmico, empresarial e da sociedade em geral, a partir da construção de um repertório comum sobre educação em sustentabilidade, e a elaboração de políticas públicas com o mesmo objetivo.

“Queremos com esse evento proporcionar uma transformação cultural. Em São Paulo, pelas características da região, o foco é nas escolas de negócios”, afirma Rocha Loures. Cada vez mais haverá distanciamento entre o que o mercado demanda e o que as escolas formam, principalmente, se forem levados em conta os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM) e os princípios do Global Compact.

“Os encontros que seguem o Global Forum, de Curitiba, fazem parte de um processo. O Brasil foi escolhido como protótipo para na seqüência podermos implementar as ações sugeridas. Temos que dar seqüência e avaliar como o Call for Action deve acontecer em cada região do Brasil, já que temos públicos completamente diferentes”, comenta Loures.
Nos próximos meses outros encontros acontecerão em Manaus (25 a 27 de março de 2009) e João Pessoa (15 e 15 de abril de 2009). Para essas regiões, os públicos que serão chamados para a ação serão outros, que não apenas as escolas de negócios. “Na região da Amazônia o foco será nas comunidades tradicionais, principalmente os indígenas. Já para a região nordeste focaremos as cooperativas, que são importantes públicos para agir localmente”, comenta Ilma Barros, consultora da Federação das Indústrias do Estado do Paraná, coordenadora do BAWB Brasil e parceira da Case Western Reserve.

Por isso, os encontros do Global Forum têm a sustentabilidade como pano de fundo, mas sempre tratada no seu sentido mais amplo, em todas as dimensões, do social ao ambiental, cultural, econômico e ético. Segundo Rocha Loures, trata-se da customização da sustentabilidade, em que o pré-requisito é a inovação, que pressupõe tecnologia e pesquisa, por isso a participação dos representantes das universidades.

“Queremos colocar os atores para conversarem entre si. A cada encontro evoluímos em propostas e projetos implementados. O que foi discutido em Curitiba será validado em São Paulo e acrescido de outras propostas que complementem e que sirvam mais para o público que aqui estará”, comentou. Do Call for Action São Paulo sairão propostas que serão validadas em Manaus e assim o movimento segue envolvendo públicos diversos e formando redes. A lógica dos eventos proporciona espaços de aprendizado compartilhado para criação conjunta. “Nesse cenário se instalam comunidades que se beneficiam de uma rede global - é um princípio de redes”, avalia.

Serviço

Datas e horários: 20 e 21 de novembro, das 9 às 18 horas
Local: Centro de Convenções Fecomercio - Rua Dr. Plínio Barreto, 285 - Bela Vista - São Paulo - SP
Investimento: R$ 120,00 ou R$ 60,00 (para estudantes ou professores)
Inscrições através do site www.globalforum.com.br

Mais informações para público: (11) 3255.7205

(Mercado Ético/Global Forum)

Os pobres também vão pagar pela crise

Gustavo Capdevila, da IPS

Os países em desenvolvimento não estão a salvo dos efeitos da crise financeira nascida nos Estados Unidos, com originalmente foi insinuado, mas, até agora, o impacto não foi tão dramático, segundo Michael Herrmann, economista da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad).
Em entrevista a IPS, Herrmann afirmou que os mais expostos são os Estados mais pobres do mundo, em razão da queda dos preços dos produtos básicos, tendência que já é notada, pois muitos deles são exportadores desses bens, alertou o especialista.

IPS- Como repercute nos países do Sul a crise do sistema financeiro norte-americano que já afeta boa parte do mundo rico?

Michel Herrmann- Nas nações em desenvolvimento esta crise arroja resultados diretos que se transmitem através dos mercados de capitais e do comportamento assumido pelas instituições financeiras uma vez surgido o problema. Mas, também há efeitos indiretos, como as conseqüências da depressão econômica global, entre elas a redução dos preços dos produtos básicos, e também as possíveis derivações na assistência ao desenvolvimento.

Sobre este ponto da Assistência Oficial ao Desenvolvimento (AOD), cabe esclarecer que nenhuma lógica nos diz que essas contribuições dos países industrializados devem diminuir em resposta a uma crise econômica, embora, naturalmente, existam razões políticas para que isso ocorra.

IPS- quais são os aspectos destacáveis dessas conseqüências diretas?

MH- Por exemplo, vemos a queda das bolsas de valores ns países em desenvolvimento e o aumento nesses mercados emergentes dos spread (custo de operações financeiras), as diferenças de rendimentos dos ativos. Também vemos que as instituições financeiras se mostram menos inclinadas a emprestar a outras entidades similares e as empresas menos dispostas a realizar investimentos.

IPS- No começo da crise se disse que os países em desenvolvimento sairiam menos prejudicados devido aos seus menores vínculos com os mercados principais.

MH- Vemos que a idéia de um desacoplamento desses países com o resto do mundo não é correta. Mas, até agora os efeitos nas nações em desenvolvimento não são tão dramáticos quanto poderíamos ter pensado há algum tempo.

IPS- A que atribui essa aparente situação cômoda?

MH- Essa relativa resistência saudável do Sul provém basicamente do fato de alguns desses Estados disporem de elevados excedentes de conta corrente. Além disso, a propósito apresentam taxas de câmbio ligeiramente desvalorizadas, têm uma competitividade exportadora muito sólida e recursos suficientes para se autofinanciarem. Não dependem muito dos recursos financeiros externos. Portanto, são bastante resistentes às comoções. No entanto, há outros no mundo em desenvolvimento que provavelmente serão prejudicados, porque têm alto déficit de conta corrente, taxas de câmbio supervalorizadas e baixa competitividade exportadora.

IPS- O que representa a crise para os países menos avançados (PMA)?

MH- Numerosos países desse grupo serão afetados. Na realidade, os PMA não estão solidamente integrados aos mercados financeiros internacionais, mas também pagarão as conseqüências da mudança de comportamento dos bancos que hospedam. Por exemplo, na África central e ocidental operam muitos bancos franceses, e creio que na África meridional atual bancos ingleses. Agora, esses entidades estão sob tensão em seus países de origem e por isso podem se mostrar menos dispostas a manter suas operações nos PMA.

IPS- Os PMA continuarão crescendo?

MH- Os efeitos indiretos da crise repercutem com maior pressão sobre os PMA. É o caso da contração econômica mundial. O Fundo Monetário internacional revisou seu prognóstico de 2009 para a economia mundial. Em abril projetava crescimento de 3,8% e em seu último informe de outubro previa apenas 3%. Isto significa que o produto retrocede no mundo em desenvolvimento, mas ocorrerá o mesmo nos países industrializados e nas economias em transição.

IPS_ Já são notados sinais desse comportamento?

MH- Sim, esta tendência já mostra efeitos negativos, por exemplo, nos investimentos. A menor demanda trará menos investimentos. O mesmo já se nota nas exportações. Também se vê as conseqüências negativas no dinheiro que os emigrantes enviam aos seus países de origem. Na medida em que perdem seus empregos nos países industrializados, as remessas são menores ou mais espaçadas, e, inclusive, muitos voltam para casa.

IPS- O que acontece com os preços dos produtos básicos?

MH- Naturalmente, com a contração da economia mundial, vimos uma queda dos preços das matérias-primas, com ocorre com o petróleo e outros produtos que seguem a mesma tendência. São numerosos os efeitos associados com a depressão da economia e afetam todos os países e todos os setores, embora com intensidade que irá variar segundo países e setores econômicos.

Por exemplo, a recessão nos Estados Unidos, com redução da demanda interna e depreciação do dólar, determina uma queda das importações nesse país, o que afetará diferentes nações muito dependentes de suas vendas ao mercado norte-americano, como China e México. Esta nações e outras serão afetadas principalmente em termos absolutos.

IPS- Os PMA também serão alcançados?

MH- Sim, não se deve esquecer que numerosos PMAs exportam porcentagens significativas de sua produção para os Estados Unidos, e, especialmente, para a União Européia. Uma queda na demanda nessas duas potências afetará os PMAs. Por outro lado, estes países pobres provavelmente sairão prejudicados pela redução dos preços dos produtos básicos, pois muitos deles são exportadores desses bens.

IPS- Haverá outros inconvenientes para os PMAs?

MH- Não, porque a contração da economia mundial, os custos associados com o programa de resgate aos bancos e também os relacionados com as políticas anticíclicas estimularão os principais doadores a reduzir os fundos para assistência ao desenvolvimento. Essa possível queda da ajuda afetará principalmente os países mais pobres, que são os PMAs. São os que mais dependem da Assitencia Oficial ao Desenvolvimento.

IPS: Resumindo…

MH- Em conjunto, se comprova que não ocorre o desacoplamento diante da crise entre países em desenvolvimento e industrializados, com alguns supunham. Todos serão afetados, mas, devemos estar conscientes de que os efeitos variarão no tempo e na intensidade. As nações integradas aos mercados financeiros mundiais serão as afetadas diretamente.

Mas, tudo dependerá da posição econômica em que se encontrem. Por exemplo, se apresentam superávit ou déficit em conta corrente, se suas taxas de câmbio estão super ou subvalorizadas. Quanto aos demais países, menos integrados aos mercados financeiros globais, incluídos os PMAs, em sua maioria os efeitos serão indireto, mas, nem por isso menos duros.

IPS- Assim, o panorama é sombrio?

MH- Naturalmente, devemos estar conscientes de que os efeitos da crise podem ser muito mais graves. Mas, uma piora dependerá também das respostas macroeconômicas dos países industrializados e das nações em desenvolvimento. Por exemplo, com políticas econômicas anticíclicas pode ser possível uma redução dos efeitos da contração econômica.

IPS- O que recomenda em especial para as nações em desenvolvimento?

MH- As políticas que podem ser aplicadas por esses países dependerão de cada um deles. Creio que não há recomendações gerais. De todo modo, penso que devem evitar, se puderem, as políticas monetárias rígidas, bem como as políticas fiscais.

Naturalmente não estou dizendo que se enfrentarem taxas de inflação muito altas, impossíveis de serem manejadas, deverão afrouxar suas políticas monetárias e fiscais. Embora esteja claro que agora a ameaça de inflação é menor. E, por fim, para estimular suas economias deveriam considerar a possibilidade de realizar investimentos públicos, em especial na infra-estrutura.

(Envolverde/IPS)

Cúpula do G-20 choca-se com o ceticismo

Abid Aslam, da IPS

Os líderes das 20 maiores economias mundiais reivindicaram com êxito sua cúpula do final de semana em Washington, convocada para atender a crise financeira internacional. Em âmbitos-chave ainda reina o ceticismo. A cúpula do Grupo dos 20 acordou usar o gasto público para combater a recessão, garantir o controle sobre os mercados, atacar o protecionismo e reanimar as negociações rumo a um acordo multilateral de comércio, hoje bloqueadas. Os avanços na matéria deverão ser analisados brevemente, no final de março. Os chefes de governo reiteraram seus compromissos com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e com a modernização das instituições financeiras internacionais, nas quais se deverá dar mais poder a países hoje com escassa representação.

Mas da cúpula em Washington não surgiu nenhuma indicação sobre o que significarão estas promessas, em um contexto de caos financeiro e queda-livre da ajuda internacional ao desenvolvimento do Sul pobre. A delegação liderada pelo presidente George W. Bush salvou seu prestígio: o grupo de 20 nações ricas e pobres avaliou, na declaração final, que a catástrofe desatada nos Estados Unidos se deveu a falhas na regulamentação dos mercados em “alguns países avançados”. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, afirmou que tanto ele quanto os demais governantes da União Européia, bloco que pressionou pela realização da cúpula, obteve “virtualmente tudo” o que pretendia da reunião.

A UE e seus membros procuravam maior regulamentação das empresas financeiras. Nesse sentido, a cúpula acordo instalar um “colégio de supervisores” para que os órgãos de controle dos países troquem dados sobre firmas bancarias e de investimento que operam através das fronteiras. Sarkozy sugeriu que as conseqüências da cúpula vão além de seus resultados concretos: “os Estados Unidos ainda são a potência mundial número um. Mas, será a única? Não”, disse em uma entrevista coletiva ao fim do encontro.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também presidente em exercício do G-20, teve oportunidade de dizer mais ou menos o mesmo sobre o Grupo dos oito países mais poderosos do mundo (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia). “Falamos do G-20 porque o G-8 já não tem nenhuma razão de ser. As economias emergentes devem ser levadas em conta no mundo globalizado de hoje”, afirmou Lula. Brasil e China derrotaram a oposição de alguns países ocidentais e conseguiram o compromisso de aumentar o poder de decisão das economias emergentes no Fórum de Estabilidade Financeira, com sede na Suíça, do qual participam ministros das finanças e representantes de bancos centrais. A cúpula do G-20 também reafirmou as promessas de dar às nações em desenvolvimento mais poder no Fundo Monetário Internacional e no Banco Mundial.

As deliberações do final de semana deram a Bush a oportunidade de limpar um pouco a sua imagem internacional, manchada por anos de unilateralismo. Sarkozy havia proposta considerar a crise financeira em uma cúpula do G-8, mas o presidente norte-americana cobrou que fosse aberto o diálogo para as economias emergentes e propôs realizar uma do G-20, que representa 80% da economia mundial e dois terços da população. “A primeira decisão que tive de tomar foi sobre quem viria para a reunião. E, obviamente, decidi que deveria ser o G-20″, disse Bush aos jornalistas. “Com tantas nações de seis diferentes continentes, que representam distintas fases de desenvolvimento econômico, seria possível alcançar acordos substantivos? Me agrada informar que a resposta a essa pergunta é: naturalmente”, acrescentou.

Nem todos se mostraram convencidos a respeito. “Apesar das tentativas de Bush, ninguém deve se surpreender por a cúpula de emergência ter conseguido poucos resultados em termos de soluções substantivas para problemas que vão além da ameaça imediata ao crescimento global”, disse em seu editorial o jornal econômico Business Standard, publicado em Mumbai, capital financeira da Índia. “O Banco Mundial, o FMI, a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Banco de Pagamentos Internacionais (BIS) e o Fórum de Estabilidade Financeira são os organismos que devem atender estes problemas e tomar decisões rapidamente”, acrescentou o jornal indiano. “E a OMC está paralisada pelos desacordos, o FMI e o Banco Mundial andam escassos de recursos. O BIS alertou para esta crise, mas ninguém ouviu. O G-20 pode ter um papel de ampla gama, dando boas idéias, mas não pode substituir o trabalho” nessas instituições, afirmou o Business Standard. Por sua vez, o jornal madrilenho El País considerou em seu editorial que a declaração final
da cúpula “apenas propôs princípios genéricos de reforma do sistema financeiro e linhas muito gerais de atuação econômica”. The Telegraph, de Londres, afirmou que “a admissão da culpabilidade financeira do G-20 pode ser o primeiro bom passo para muitos”.

O porta-voz da organização humanitária Oxfam Internacional Gawain Kripke pediu urgência à Organização das Nações Unidas para que assuma um papel mais ativo. “Há alguns vazios importantes no plano de ação” surgido da cúpula, disse Kripke. As Nações Unidas “deveriam ter um papel de liderança no desenvolvimento e na implementação de propostas para dar a essas medidas uma base mais profunda de transparência, responsabilidades e representação”, acrescentou. as negociações na ONU entrarão em uma nova fase na próxima semana, com sua conferência sobre financiamento para o desenvolvimento, em Doha, capital do Qatar. A próxima cúpula do G-20 acontecerá em abril. Até lá, o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, estará instalado na Casa Branca e a Grã-Bretanha terá assumido a presidência do grupo.

(Envolverde/IPS)

Crescem perspectivas de progresso nas conversações sobre o clima em Poznan

As negociações das Nações Unidas em Poznan, de 1 a 12 de dezembro, são cruciais rumo a um acordo global justo e ambicioso sobre o clima, previsto para o final do ano que vem. O mapa do caminho desenhado em Bali - acordado nas negociações sobre clima do ano passado - determina que os governos concluam as negociações na 15ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em dezembro de 2009, em Copenhagen. Com apenas um ano até lá, o encontro de Poznan abordará a visão compartilhada para ações cooperativas e um texto de propostas concretas para a negociação global sobre o clima, sobre a qual os negociadores trabalharão ao longo do ano. As discussões são uma grande oportunidade para afunilar as opções que já estão em pauta e desenvolver propostas mais promissoras adiante.

Questões-chave

O ponto de partida para Poznan difere muito dos encontros anteriores: há um novo presidente norte-americano eleito, com uma ambiciosa agenda climática; diversas economias emergentes estão em processo sem precedentes de adoção de políticas de corte de emissões; e a vacilante União Européia pode retomar sua antiga liderança nestas questões ao aprovar um revolucionário pacote de leis em dezembro.”Diante do estimulante desenvolvimento político em alguns países, temos razões para esperar um progresso real em Poznan”, disse Kim Carstensen, líder da Iniciativa Global para o Clima, da Rede WWF. “É hora de os dirigentes traduzirem vontade política em um primeiro texto de negociação para o novo tratado global do clima”.Para a secretária-geral do WWF-Brasil, Denise Hamú, as negociações de Poznan serão decisivas na construção de um acordo consistente, ambicioso e justo em Copenhagen, no ano que vem. “É hora de os países desenvolvidos e em desenvolvimento se posicionarem positivamente para, juntos, empreenderem um combate efetivo às emissões de gases de efeito estufa. Disto depende, inclusive, o futuro do já combalido quadro financeiro mundial, não bastasse a ameaça à própria existência da vida tal como ela é”, alertou Denise Hamú.

Ao invés de postergar as ações contra as mudanças climáticas em face do temor de recessão, os ministros de Estado deveriam entrar em acordo sobre medidas fortes para reduzir as emissões e aumentar a eficiência energética, incentivando a indústria e o emprego sustentáveis. “Uma sociedade de baixa emissão de carbono e investimentos em energia limpa são parte da solução tanto para a crise climática quanto para a crise financeira”, disse Kathrin Gutmann, coordenadora de Políticas da Iniciativa Global para o Clima, da Rede WWF. Em Poznan, para prevenir uma catástrofe climática com intensificação de eventos extremos como secas e inundações e furacões, que acentuaria a crise financeira, devem ser assinados acordos que permitam estancar e reduzir as emissões bem antes de 2020.

Enquanto mais e mais países desenvolvidos e em desenvolvimento reconhecem a necessidade urgente de uma ação decisiva contra a ameaça climática, o país anfitrião do encontro, Polônia, tem se comportado como defensor da indústria do carvão mineral, o que rende ao país a reputação de retrógrado no que tange às negociações sobre mudanças climáticas. “A Polônia precisa revisar suas posições retrógradas e tornar-se um anfitrião confiável, antes de mais nada, abandonando sua resistência ao pacote sobre clima e energia da União Européia.

(WWF-Brasil)

Brasil exibe sua matriz energética para especialistas de 92 países

Thiago Romero, da Agência FAPESP

Quarenta e oito por cento da energia gerada no Brasil, que além de ser o maior produtor de etanol de cana-de-açúcar do mundo também ocupa posição de liderança nas tecnologias de sua produção, vem de fontes renováveis. Somente a cana fornece 15% dessa oferta interna de energia no país, em sua maioria na forma de etanol para o funcionamento de automóveis. Em contrapartida, entre os países que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que juntos produzem mais da metade de toda a riqueza do mundo, somente cerca de 7% da energia utilizada vem de fontes renováveis. A média mundial desse tipo de utilização é de 13%, menos de um terço da média brasileira.

Os dados, divulgados na segunda-feira (17/11), em São Paulo, na sessão de abertura da Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, serviram como um sinal de boas vindas às cerca de 92 delegações estrangeiras presentes. Com o tema central “Os biocombustíveis como vetor do desenvolvimento sustentável”, o encontro prossegue até sexta-feira (21).

José Serra, governador de São Paulo, foi o primeiro a falar e destacou que, no caso brasileiro, o estado reúne a maior concentração da produção tanto de álcool como de açúcar. “Excluindo as pastagens, a cana ocupa mais da metade das lavouras no estado. Cerca de 60% da produção de açúcar e dois terços da exportação de etanol são feitos a partir de São Paulo. Trata-se, portanto, de uma atividade estratégica para o desenvolvimento regional”, ressaltou.

Ao lembrar as inúmeras vantagens ambientais e energéticas do etanol, Serra disse que o futuro do etanol no Brasil passa pela FAPESP, cujos programas “têm apoiado pesquisas sobre bioenergia em várias frentes, desde a tecnologia de máquinas e equipamentos até o desenvolvimento da alcoolquímica, passando pelo melhoramento das plantas, impactos ambientais e processamento do bagaço da cana e outros resíduos.”

“Somente em 2008, a FAPESP ofereceu cerca de R$ 83 milhões em chamadas públicas de pesquisas na área. A Fundação também compartilha investimentos nesses estudos com empresas privadas, entre elas a Dedini e a Braskem”, apontou Serra.

A anfitriã do evento, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, representando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, falou logo após o governador e também reconheceu que a biotecnologia derivada da cana-de-açúcar tem importante contribuição nos 48% de energias renováveis geradas no Brasil.

“Não podemos esquecer também que a introdução, mais recentemente, do biodiesel na matriz energética do transporte brasileiro, com os 3% do biocombustível misturados ao diesel consumido no país, também tem contribuído para esse esforço nacional. É certo que o Brasil tem 30 anos de etanol e apenas cinco de biodiesel, mas estamos convencidos de que esse é o caminho que se deve trilhar”, afirmou.

Dilma citou a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) como um dos centros nacionais de excelência de desenvolvimento de tecnologias agrícolas que mais têm sustentado os estudos científicos sobre etanol nas últimas décadas.

“Mesmo sendo um país produtor e, nos próximos anos, exportador de petróleo, o Brasil é hoje referência mundial em agricultura em zona tropical, tanto na produção de bioenergia como na adaptação e melhoria de sementes”, assinalou.

A ministra citou um número que não deixa de ser um excelente indicador da crescente produção de combustíveis renováveis no país. “Desde 2003 já foram produzidos cerca de 7 milhões de veículos flex fuel, sendo que hoje praticamente 90% de toda a produção de veículos leves no Brasil é bicombustível”, afirmou.

“Espero que nesse encontro os formuladores de políticas e os tomadores de decisão possam trocar experiências em clima de cooperação, no sentido de ampliar ainda mais a participação dos biocombustíveis na matriz energética global”, disse.

Também estiveram presentes na cerimônia de abertura do Conferência Internacional sobre Biocombustíveis os ministros de Minas e Energia, Edison Lobão, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, da Agricultura, Reinhold Stephanes, e da Ciência e Tecnologia, Sergio Resende.

“Biocombustíveis e Mudança do Clima”, “Biocombustíveis e Sustentabilidade”, “Biocombustíveis e Inovação” e “Biocombustíveis e Mercado Internacional” serão os eixos temáticos que conduzirão o restante da conferência.

Nesta terça-feira (18/11) será realizada a sessão especial “O papel da pesquisa científica na área de biocombustíveis”, organizada pela Academia Brasileira de Ciências, com a participação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), do Inmetro e da Universidade de São Paulo. Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico, representará a Fundação.

Mais informações: www.biofuels2008.com/br/index.php

(Agência FAPESP)

Porque Obama perdeu Bretton Woods II

Hazel Henderson*

A decisão de Obama de não participar da primeira reunião dos líderes do G-20, em Washington, que se realizou nos dias 15 e 16 de novembro de 2008, refletiu seu entendimento de que a ordem econômica mundial se alterou. Seus enviados especiais, a ex-secretária de Estado dos Estados Unidos, Madeleine Albright, e o ex-congressista republicano Jim Leach, do Estado de Iowa, vieram como observadores. Os novos parceiros no Grupo dos 20, liderado por Brasil, China, Índia e outros países e economias atualmente consideradas como desenvolvidas e emergentes, desafiarão o próprio clamor de Obama por mudanças.

Embora o comunicado dos líderes tenha se mantido reservado e educadamente comedido, ficou clara a sinalização de uma nova ordem econômica e o lançamento de um “processo Bretton Woods II,” com uma nova reunião marcada para 30 de abril de 2009 em Londres. Os líderes concordaram que as reformas do atual sistema financeiro são mais que necessárias e que a crise foi conseqüência da total falta de visão, riscos excessivos e alavancagem financeira realizada pelo sistema atual.

Ficou evidente a ignorância de todos os participantes sobre como a globalização e o entrelaçamento de todos esses mercados, que funcionam 24 horas por dia e 7 dias por semana, inevitavelmente contribuíram para a criação do caos em todo o sistema. Embora não indicando diretamente os Estados Unidos, os líderes apontaram como culpados pela crise “alguns países avançados”, “cujos legisladores, órgãos reguladores e supervisores deixaram de analisar adequadamente e lidar com os riscos que foram se acumulando nos mercados financeiros.”

Os líderes europeus estão preocupados e pedem uma nova ação intervencionista para frear a especulação e a alavancagem, os hedge funds, os pools particulares de capital e derivativos, como os quase $60 trilhões de swap default que foram de grande peso para a comoção financeira. Enquanto isso, China, Brasil, Índia, Rússia, África do Sul e outros membros influentes do G-20 também se manifestaram em favor de uma “nova ordem financeira internacional” que seja clara, justa, inclusiva e ordenada, como dito pelo presidente da China, Hu Jintao.

Esses países estão exigindo uma representação mais justa, com direito a voto, no FMI, Banco Mundial e OMC, para que a nova realidade global seja melhor refletida, reconhecendo que os EUA não são mais a locomotiva da economia mundial. Realmente, a maior parte do crescimento do PIB global (um indicador inadequado) é hoje responsabilidade da China, Índia, Brasil e outras economias emergentes do Hemisfério Sul. Por exemplo, os EUA, hoje os maiores devedores mundiais, controlam 17% dos votos no FMI, enquanto a China, o maior credor mundial, controla apenas 3,66% .

Uma importante questão subjacente é como o capitalismo deverá evoluir. O modelo de crescimento econômico liderado pelos Estados Unidos, o conhecido “Consenso de Washington”, baseado no livre coméricio e na liberalização dos mercados, nas contas de capital aberto, moedas flutuantes e privatização, sob comando dos mercados financeiros globais não-regulados, desabou. A China tomou a frente do novo debate, ao convocar uma reunião em Pequim, em outubro de 2008 , à qual compareceram todos os países europeus, como também os membros do G-20 e outros países da África. A administração Bush desdenhou tal multilateralismo e acabou deixando os EUA para trás nessa corrida, não sendo mais convidados para reuniões da mesma importância, incluindo a Organização para Cooperação de Shangai, que inclui países da Ásia e Ásia Central, além do Irã. Enquanto isso a China estreitava alianças em todo o mundo, particularmente na Europa, África e América Latina.

A nova demanda por eqüidade inclui a democratização do Banco Mundial e dos processos na OMC; a exigência de ampliação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, para incluir como membros permanentes o Brasil, Japão, Índia e outros países importantes do Hemisfério Sul, como a Indonésia e a África do Sul; e também a suspensão do direito de veto ainda em vigor, concedida aos antigos “cinco membros permanentes” - os países vitoriosos na Segunda Guerra Mundial.

Tudo isso é um despertar muito duro para muitos nos Estados Unidos, assim como para a administração Bush, que acreditou que a melhor maneira de resolver o problema seria ignorar os interesses de outros países e seguir sozinho. Hoje, quando os EUA se encontram no olho do furacão, na pior crise doméstica desde os anos 30, a maioria dos cidadãos norte americanos se dá conta de que precisam de ajuda global e, ainda, que a crise financeira global, que começou em Wall Street, agora precisa da cooperação de todos os países do mundo para que seja resolvida. Essa é a verdadeira dimensão da mudança que o recém-eleito presidente Obama precisa enfrentar.

Como já comentei, a reforma do cassino global, que não seguia normas e regras, precisa ser feita imediatamente. A reunião de 15 e 16 de novembro de 2008 claramente indica uma disposição crescente para cooperação entre as nações e estabelece isso como essencial, particularmente a supervisão dos bancos e outros segmentos importantes do mercado financeiro. A cooperação é necessária para evitar políticas de “peça-ao-vizinho”, que possam ser apenas tentativas de tirar vantagem por parte de um país ou outro.

Porém, nenhuma menção foi feita à mais urgente das prioridades: tentar resolver o problema do intercâmbio diário de moedas, em torno de $2 trilhões, onde mais de 90% das transações é pura especulação. Moedas que sobem e descem são responsáveis por grande parte da turbulência que vivemos hoje e pela excessiva volatilidade dos mercados mundiais, em razão dos elementos de contágio que se espalham em minutos nesse mercado que opera 24 horas por dia, 7 dias da semana.

Um imposto de apenas 1%, ou até menos, sobre todas as transações financeiras vem sendo defendido desde os anos 70, quando foi proposto pelo economista James Tobin e, em 1989 pelo ex-secretário do Tesouro norte-americano, Lawrence Summers, que também participou da reunião em Washington.

Tal imposto seria simples de ser recolhido, por meio de um sistema informatizado, instalado nas telas de transações cambiais, como o Foreign Exchange Transaction Reporting System (FXTRS). Esse sistema opera como uma versão eletrônica da venerada uptick rule de Wall Street, aprovada em 1934, mas repelida durante a segunda administração Bush. Hoje, os corretores de Wall Street clamam por seu restabelecimento para deter as vendas completamente a descoberto. O FXTRS, com a “uptick rule” informatizada, gradualmente aumentará o imposto básico de 1%, sempre que houver ataques especulativos contra uma moeda mais fraca. Tais ações raramente ocorrem para “disciplinar” as políticas de um país, como “traders claim”, mas quase sempre são tentativas de obter lucros rápidos.

No transparente sistema FXTRS, os corretores que venderem moedas em baixa começam a experimentar o aumento do imposto, em cascata, para o fundo de estabilização da moeda do país, cortando assim os ganhos do especulador. Sem a perspectiva de lucros, os especuladores deixam o mercado, voluntariamente, e procuram por outras moedas ou oportunidades de arbitragem. Os fundos, resultados de tal imposto sobre câmbio, podem somar centenas de bilhões de dólares, que, por sua vez, seriam diretamente utilizados na saúde pública, educação, infra-estrutura e outros projetos que visem o bem público (para mais informações, visite www.HazelHenderson.com e clique em FXTRS).

Esperançosamente, na reunião de 30 de abril de 2009, essas propostas serão consideradas e resultarão na rápida implementação de outros passos importantes para regular os mercados financeiros, já discutidos e acordados. Os passos adicionais devem incluir: considerar como crime o não-recolhimento de impostos, e como ilegais países que sejam paraísos fiscais e não observem a ação da International Financial Action Task Force (www.fatf-safi.org ); repelir as regras do Acordo da Basiléia 2, que permitiram que os bancos avaliassem seus próprios riscos, o que ajudou em muito na atual crise; aumentar a adequabilidade de capitais e fundos de reserva e reduzir as margens em todas as transações.

O que o “elefante de 800 libras” ainda não entendeu é a necessidade de uma reforma monetária da reserva bancária fracionada, em si, o que permite aos bancos emitir dinheiro como dívida - simplesmente do nada. Restaurar o direito das nações democráticas de cunharem suas próprias moedas, diretamente, como estabelecido pela Constituição norte-americana, é agora essencial, particularmente nos EUA, onde as dívidas estão atualmente esmagando todos os setores, e o Federal Reserve, junto com o Tesouro, agora imprimem dinheiro às vistas dos contribuintes. O American Monetary Institute apresentou um projeto de lei no Congresso para alcançar uma mudança gradual, necessária para o nosso sistema bancário (www.monetary.org)

Mais fundamentalmente, as falhas nos sistemas monetários globais têm fundamentos na expansão do conhecimento humano e da capacidade de inovar, na medida em que nos movemos da Era Industrial baseada em combustíveis fósseis para a Era Solar, com tecnologias mais limpas e informações abundantes. Assim como o padrão-ouro foi incapaz de oferecer a “largura de banda” necessária para todo o crescimento, inovação, comunicação e transações exigidas pela Era Industrial, hoje os circuitos monetários não conseguem propiciar “largura de banda” suficiente para as comunicações e o comércio em constante crescimento na economia da informação.

As tecnologias de ruptura rapidamente deslocam tudo o que é insustentável, como as tecnologias poluentes da Era Industrial, que já esgotaram os circuitos financeiros existentes e estreitaram os regimes bancários centrais. O dinheiro é apenas uma das formas de informação, e hoje as plataformas de informação comercial puras estão oferecendo a largura de banda extra necessária para as transações, e.g. e-Bay, Craigslist, Freecycle e milhares de outros sistemas de comércio eletrônico similares, telefones celulares e papel-moeda local usado para atender necessidades e desafogar mercados sedentos de crédito.

O foco limitado de Wall Street, concentrado apenas no dinheiro, resultou em seu fim. O dinheiro foi equiparado à Riqueza, ignorando toda e qualquer outra forma de riqueza, das habilidades humanas à produtividade dos sistemas naturais, na qual se baseiam todas as economias. O dinheiro, como o ouro, permanecerá como reserva útil de valor e meio de troca, mas agora como parte de uma nova visão, um regime mais inclusivo, dominado por mercados puramente baseados em informação.

* Hazel Henderson é economista, líder mundial da plataforma Mercado Ético. Autora de vários livros, entre eles Ethical Markets: Growing the Green Economy. Co-criadora do Calvert-Henderson Quality of Life Indicators, juntamente com o Calvert Group. Participou do Comitê Organizador da conferência Beyond GDP no Parlamento Europeu (www.beyond-gdp.eu).

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A mídia que balança o berço

Por Maria Helena Masquetti, para o Le Monde Diplomatique




"Numa época em que se fala muito de ecologia, é preciso que nos conscientizemos de que proteger nossos filhos do risco de desenvolver uma forma de dependência em relação à tela luminosa é uma forma de ecologia do espírito"

Nestes tempos de crianças expostas a tantos tipos de mídia, o velho provérbio “a mão que balança o berço governa o mundo” propicia uma reflexão sobre quem é realmente a maior autoridade na estrutura familiar. Tomando-se por autoridade aquele que provê a manutenção da família, supõe-se que ambos, marido e mulher, dividam entre si esse papel de governar a educação dos filhos. No entanto, cada vez mais, as crianças expressam valores e anseios contrários aos da educação recebida em casa e na escola. O fato é que elas dependem dos exemplos adultos para a construção de sua identidade. E, por acreditarem no que ouvem ou vêem, em sua lógica infantil, passam a ver a mídia [1] como outra autoridade dentro de casa.

Por meio dos sites, jogos eletrônicos, revistas, mensagens comerciais e programas inadequados, a mídia propõe-se a satisfazer, de várias formas, os desejos infantis que, pela manobra persuasiva, converte em necessidades. Expresso em números (Interscience, 2003), o resultado desse bombardeio de mensagens e apelos comerciais é de 80% de influência das crianças nas compras da família. Isso concorre para diminuir a autoridade dos pais perante os filhos. A propósito, há alguns meses, muita gente viu um comercial de automóvel equipado com um aparelho de DVD, insinuando que a atuação dos pais pode ser dispensável na vida dos filhos em favor da comunicação midiática. A mensagem mostrava dois carros na estrada. Num deles, os pais se desesperavam por não saber como conter as rusgas entre os filhos pequenos enquanto, no outro, equipado com o aparelho DVD, o clima era de total tranqüilidade pela atenção das crianças presa à tela.

O que melhor explica o fato dos filhos aderirem tão mais prontamente a tantas mensagens da mídia e desdenhar os ensinamentos dos pais é a permissividade expressa por ela das duas formas mais sedutoras para a criança: a ausência do “não”, palavrinha incômoda porém decisiva para a demarcação dos limites imprescindíveis à socialização; e a reverência irrestrita às vontades das crianças que só faz ampliar nelas a fantasia de poder ter tudo.

Mídia: uma babá aparentemente dedicada, afetuosa e complacentes demais com os desejos infantis

Um pequeno recorte na trama do filme de Curtis Hanson: “A Mão que balança o berço” – título, aliás, inspirado no citado provérbio, como explicita a fala de um de seus protagonistas –, ilustra essa atração dos pequenos por adultos complacentes demais com os desejos infantis. A trama gira em torno de uma babá aparentemente dedicada e afetuosa que começa a se apropriar das duas crianças de um jovem casal de forma lenta e sedutora. Valendo-se de sua maior disponibilidade de tempo junto aos pequenos, a babá permite à garotinha mais velha – cerca de cinco anos – assistir a um gênero de filme vetado à ela pelos pais em função de sua pouca idade. Como é de se esperar, a garotinha logo entende a babá como mais amorosa que seus pais.

De modo geral, tal cumplicidade com os caprichos infantis está presente em diversos tipos de mídia dirigidos às crianças. E a tendência é antecipar-se, cada vez mais, essa interferência na educação delas. Por isso, quem tiver hoje nos braços seu recém-nascido já não pode deixar para mais tarde a preocupação com os impactos da comunicação midiática na formação dos pequenos. Ela já está do lado do berço na forma dos programas para bebês. Se nos faltam ainda dados de pesquisa para saber o que acontecerá, daqui a alguns anos, com os bebês “educados” via TV, não faltam experiências e estudos sobre a formação do psiquismo. Um bebê não tem estrutura mental para saber sequer quem é e o que é; não tem idéia de suas dimensões físicas; desconhece o mundo à sua volta e, sobretudo, é fusionado com sua mãe, tendo-a como uma extensão de si mesmo. Como concluiu o psicanalista e pediatra Donald Winnicott, um dos mais brilhantes estudiosos do desenvolvimento infantil, “não existe tal coisa chamada bebê, significando com isso que se decidirmos descrever um bebê, encontrar-nos-emos descrevendo um bebê e alguém. Um bebê não pode existir sozinho, sendo essencialmente parte de uma relação”.

Alheio aos danos que pode trazer ao psiquismo infantil, o objetivo do marketing é implantar o quanto antes na criança a necessidade de consumir

Sendo assim, o que pensar sobre a relação de um bebê com um aparelho de televisão que fala e age, sem estabelecer um contato real com ele? Uma das primeiras formas de contato da criança com o mundo é a identificação projetiva, mecanismo psíquico por meio do qual ela projeta aspectos de si mesma sobre o outro enquanto sente como seus determinados aspectos deste outro em virtude do estado de fusionamento em que se encontra. Sendo assim, é fundamental refletir sobre o quê um bebê irá projetar na caixa de uma TV (sem sua mãe dentro), com uma seqüência de imagens ainda sem sentido ou valor para ele? E, pior ainda, que aspectos ele tomará do aparelho e da produção eletrônica como partes de si mesmo?

Se não podemos prever o futuro, olhemos o que já acontece, no presente, com tantas crianças que nos rodeiam, no cotidiano ou na prática clínica: natural nos primeiros anos de vida, o narcisismo (amor a si mesmo) e a onipotência (certeza de poder ser e ter tudo) andam durando além do previsto quando, até por volta dos seis anos, deveriam ter se convertido na capacidade de se preocupar com o outro. O que estará estimulando, então, nas crianças, o prolongamento dessas características? Quem pensou em interesse comercial, acertou no x da questão que envolve hoje a preocupação com os impactos da publicidade e de determinados tipos de entretenimento na formação das crianças. Alheio aos danos que pode trazer ao psiquismo infantil, o objetivo do marketing é implantar o quanto antes na criança a necessidade de consumir. Como diz Suzan Linn, doutora em Educação e professora de Psiquiatria da Escola de Medicina de Harvard, em seu livro Crianças do consumo – A Infância Roubada, “quando nos referimos a produtos especificamente projetados para crianças “do berço à universidade” pode ser o máximo que alguém possa almejar, mas muitos fabricantes buscam lealdade à marca que dure do berço ao túmulo”.

Na reportagem “A perigosa relação do bebê com a TV”, do Jornal Observatório da Imprensa – a jornalista Leneide Duarte-Plon destaca um dos trechos do manifesto assinado pelos cientistas franceses Pierre Delion e Bernard Golse publicado por este jornal: "Numa época em que se fala muito de ecologia, é preciso que nos conscientizemos de que proteger nossos filhos do risco de desenvolver uma forma de dependência em relação à tela luminosa é uma forma de ecologia do espírito. Por isso, é urgente que nos mobilizemos para a criação de uma moratória que proíba a existência desses canais, antes que a ciência possa conhecer melhor a relação da criança pequena com a tela".

Pelo tanto que evoluímos, chega a parecer irreal que tenhamos hoje que nos revolver em argumentos para impedir que se continue penetrando um terreno tão frágil e misterioso como a psique de um bebê. E isso sob a proposta, desculpe, descabida de ampliar-lhe a inteligência e a criatividade como afirmam alguns argumentos de vendas desses programas para os pequenos. Nascidos em berço de ouro ou em cestos pobres de palha, as perspectivas dentro de cada bebê estão intactas nessa fase do broto e não demandam outros cuidados além dos prescritos pela natureza. Os mais caros entre eles são o calor do seio materno, o alimento saudável, as vozes amorosas e a mão protetora que governa seu passo a passo até o contato pleno com a vida real. Se há tanta preocupação com o desenvolvimento dos bebês, que ela seja convertida, então, para a melhora social do “berço” que os abrigará ao nascer. Nada substitui o amor e os efeitos que só ele pode produzir na construção de um novo indivíduo. Recordando uma vez mais a sabedoria e prudência de Winnicott: “Ainda temos muito que aprender sobre os primeiros tempos de uma criança e talvez só as mães possam dizer o que queremos saber”.

Europa: A crise mundial e a ausência da esquerda

Por Mario Soares*

Lisboa, outubro/2008 – A crise econômica que está estremecendo o mundo, iniciada nos Estados Unidos no segundo mandato de George W. Bush, repercute na Europa, na Rússia, até na China e em outros rincões do planeta. Diante desta catástrofe os mesmos financistas que até há poucos meses reclamavam menos Estado e mais privatizações agora recorrem descaradamente ao Estado para pedir que lhes transfira o dinheiro dos contribuintes. Privatiza-se os lucros e socializa-se as perdas sem importar os danos causados ao acionistas nem as conseqüências sobre o nível de vida das pessoas menos favorecidas.O certo é que o sistema neoliberal está avariado. Se faz necessário repensar o capitalismo, fazê-lo passar desta fase especulativa, de uma “economia de cassino” para um tipo de capitalismo ético, com sensibilidade social e respeito ao meio ambiente. Uma mudança semelhante não só é possível como é indispensável. Como escreveu o Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, “é preciso que os dirigentes políticos do Ocidente tenham a coragem de dar um giro à esquerda”. Nos Estados Unidos, a esquerda sempre contou pouco, com as exceções do New Deal, do presidente Franklin D. Roosevelt e da Nova Fronteira, do presidente John F. Kennedy, que durou pouco tempo.Mas o Partido Democrático sempre manteve uma diferenciação com o Partido Republicano, ultraconservador, apesar de um de seus expoentes o presidente Ike Eisenhower, ter tido a valentia de denunciar o “complexo industrial-militar”, que renasceu com vigor durante o governo Bush. Barack Obama, apesar de não ser um político de esquerda, marca uma acentuada diferença com o ultraconservadorismo político-religioso do candidato presidencial republicano John McCain e de sua companheira de chapa, Sarah Palin.Por sua vez, a esquerda democrática do Velho Continente, que nos anos 70 e 80 ocupava o primeiro plano na Europa com líderes da qualidade de Willy Brandt, François Miterrand, Helmuth Schmidt, James Callaghan, Olof Palme, Bruno Kreisky, Felipe González, Pietro Nenni e Bettino Craxi, depois da queda do comunismo começou a perder terreno e se deixar “colonizar” pelo pensamento neo-liberal de Tony Blair e Gerhard Schroeder no contexto da chamada Terceira via (hoje desacreditada). Diante deste retrocesso surge a dúvida sobre as causas que levaram à situação de debilidade em que se encontra hoje a esquerda na Europa. Quais caminhos devem ser seguidos para atualizar o pensamento da esquerda democrática para que pos0sa enfrentar a crise múltipla com a qual nos deparamos?Se considerar-se a situação atual da esquerda nos grandes países da Europa – o Partido Social-Democrata da Alemanha, o New Labour, da Grã-Bretanha, o Partido Socialista da França e o novo Partido Democrático da Itália (para citar apenas os maiores) – constatamos o declínio que é comum aos partidos que se inspiram no socialismo democrático e estão reunidos na Internacional Socialista, cuja voz quase não se deixa ouvir. É verdade que também há outra esquerda, minoritária: o que resta dos partidos comunistas e os “altermundistas” ou não-global, que animam movimentos fundamentalmente de protesto e não encontram um caminho para seguir rumo ao poder.Por outro lado, não se deve esquecer o papel extremamente importante das federações e confederações sindicais que são sem dúvida algumas fortes em seus contextos, nem as associações de defesa dos direitos humanos e de conservação do meio ambiente e outras, influentes no plano social, mas com pouco peso na disputa pelo poder em termos eleitorais. Nesse contexto a esquerda social-democrata tem de refletir sobre duas dimensões: como enfrentar a crise em curso e com conceber outro modelo econômico, social e político voltado para um aprofundamento democrático e maior participação cívica dos cidadãos.Trata-se de reivindicar os valores éticos que sempre foram bandeiras da esquerda. Ampliar a participação cívica para se contrapor à debilidade do Estado, reforçar a justiça social, opor-se à mercantilização da sociedade, à corrupção e ao tráfico de influências. A militância deve retomar a luta a favor da paz e da resolução pacífica dos conflitos, da inclusão social, contra as desigualdades e a degradação ambiental. Além disso, os homens e as mulheres de esquerda que atuam em política partidária ou no governo têm a obrigação da transparência e de não incorrer em conflitos de interesses.Precisamente, tem sido a atividade de grupos de pressão econômicos, a imoralidade dos dirigentes de bancos e empresas, e o tráfico de influência por parte de dirigentes políticos, em uma palavra, a promiscuidade entre a política e os negócios, o que desacreditou a política e contribuiu para desencadear a crise do sistema. Não nos iludamos: o sistema está corrompido e é preciso mudá-lo. Esta é a grande tarefa da esquerda na Europa. (IPS/Envolverde)* Mario Soares, ex-presidente e ex-primeiro-ministro de Portugal.
(Envolverde/IPS)

Sustentabilidade pode ser saída para driblar crise econômica mundial

O relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em parceria com as Nações Unidas sobre o futuro dos empregos 'verdes' - ligados a energias renováveis e tecnologias ambientalmente inovadoras, mostra números expressivos: o documento estima que até 2030 serão criados até 20 milhões de novos empregos nessas áreas. Doze milhões deles serão criados só, nas indústrias de bioenergia - campo em que nosso etanol de cana se destaca. O motor da criação desses empregos seria o crescimento do mercado para os produtos verdes no mundo todo: a expectativa é que ele dobre até 2020. Hoje essa indústria já move US$ 2,74 bilhões anualmente.Para Ricardo Guggisberg, organizador da Eco Business Show, feira de sustentabilidade e negócios que acontece em São Paulo de 25 a 27 de novembro, alguns fatos do mercado mundial registram mudanças significativas a favor de um caminho sustentável e do fortalecimento de negócios e ações nessa área. Para ele, não podemos continuar encarando a atual crise mundial com olhos especulativos. "A saída está na inovação das empresas, que devem buscar alternativas mais sustentáveis. O mercado de energias renováveis é um dos mais promissores, porém, o mais importante é que haja integração entre diversos setores, para que se criem novos modelos de negócio", acredita.Durante o congresso da Eco Business Show, um exemplo de sustentabilidade, que deu certo na Suíça e foi iniciado no Brasil, será apresentado pela professora Sílvia Velasquez, coordenadora técnica do Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio). Ela mostrará o projeto Bio Etanol para o Transporte Sustentável que foi lançado em outubro do ano passado e já funciona em São Paulo no corredor Jabaquara/São Mateus no horário de pico da manhã.O projeto é resultado da parceria do Cenbio com empresas do setor de transporte e combustíveis. O ônibus possui chassi e motor importados da Suécia, país que já adota o etanol no sistema de transporte público, e recebeu carroceria no Brasil. "Em relação ao diesel, há redução de 90% das emissões de material particulado e 62% de óxidos de nitrogênio, além de não emitir enxofre e de diminuir em 80% os gases que provocam o [efeito estufa]", explica Silvia. O veículo possui 270 HP de potência, capacidade para 63 passageiros (31 sentados), ar-condicionado e piso rebaixado para o acesso de deficientes.A composição do combustível é de 95% de álcool hidratado e 5% de aditivo, necessário para realizar a ignição por compressão no veículo. O motor foi adaptado para receber o etanol e possui maior compressão. O preço do ônibus é de cerca de R$ 450 mil, semelhante aos modelos à diesel.Uma semana antes da Eco Business Show, o presidente Luis Inácio Lula da Silva irá lançar a 1ª Exposição Internacional de Biocombustível e anunciar a importação oficial do etanol pela Petrobras. "Depois de todo o processo burocrático teremos o etanol no Brasil e acreditamos que depois da exposição - onde o ônibus estará aberto para visitação - ele poderá circular o dia todo, já que teremos mais etanol disponível para o seu abastecimento", acredita Silvia.Perfil da Eco Business ShowA Eco Business Show 2008, Feira e Congresso de Econegócios e Sustentabilidade reunirá empresas que desenvolvem projetos sustentáveis, voltados ao econegócio, com o intuito de gerar negócios, promover a integração, troca de informações e geração de conhecimento nas esferas social, ambiental e econômica.Além da feira onde as empresas apresentarão, em estandes, seus trabalhos na área de sustentabilidade, o congresso, com tema Negócios e Cidades Sustentáveis, discutirá temas como projetos adotados por governos, empresas, ONGs e universidades, visando entendimento das estratégias e resultados obtidos para melhorar a vida nas cidades; estratégias e resultados obtidos na implementação de iniciativas sustentáveis e como podemos nos organizar para gerar riqueza e lucratividade nas cidades impactando menos o meio ambiente.Nomes como Franklin Same (Serasa), Vladimir Kodrjawzen (Wisewood), Rodrigo Derdik (Nemus), Colin Butterfield (Bracor) Profª Silvia Velásquez (Cenbio) , José Luis de Souza (Fitec) , Délcio Rodrigues (Ekos Brasil), Rosa Pezzini (WTorre) e Adalberto Maluf (Fundação Clinton), são alguns dos palestrantes confirmados no congresso. Além disso, em função de sua importância, o evento está contando com o apoio de entidades privadas e públicas, ONGs, Universidades, veículos de imprensa, entre outros.Eco Business Show - de 25 a 27/11 no Centro de Exposições Imigrantes, São Paulo (SP). A participação no evento é gratuita. Inscrições e outras informações: http://www.ecobusinessshow.com programação: http://www.ecobusinessshow.com/gradecongresso.pdf
(Envolverde/Assessoria)

Brasil terá saldo ambiental positivo em 2050.

Estudo realizado pela Universidade de São Paulo projeta um futuro ambiental otimista para Brasil e Rússia. Resto do mundo terá saldo ambiental devedor

O Brasil e a Rússia são os únicos países do mundo que projetam saldos positivos resultantes da combinação entre o crescimento da economia e a conservação dos recursos naturais para 2050. O dado consta do estudo “Balanço das Nações: uma reflexão sobre o cenário das mudanças climáticas”, realizado pela Universidade de São Paulo (USP).
No caso brasileiro, investimentos em matrizes energéticas mais limpas e a abundância de florestas conferem o crédito positivo de 544 bilhões de dólares, o que garante ao país condições melhores para enfrentar as mudanças climáticas e mais oportunidades de negócios. O estudo foi apresentado durante o evento “Amazônia - Dilemas e Oportunidades”, promovido pela Câmara Americana de Comércio (Amcham), em São Paulo.
“Trata-se do excedente de créditos de carbono em relação ao que se polui. O valor é positivo graças às florestas brasileiras, especialmente à Amazônia”, afirma José Roberto Kassai, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA/USP) e coordenador da pesquisa. Uma situação privilegiada, segundo o professor, que precisa ser levada em conta pelos brasileiros: “é dela que dependemos, é nossa maior riqueza”.
Baseada na metodologia básica de contabilidade empresarial, o estudo avaliou os excedentes de sete países (Brasil, Rússia, Índia, China, Estados Unidos, Alemanha e Japão) até 2050. A análise envolveu seis pesquisadores da Universidade de áreas que vão de contabilidade a biologia.
Cenário preocupante
Os números projetados para o Brasil e Rússia são uma exceção no cenário mundial, pois o resto do mundo apresenta um déficit de mais de 15 trilhões de dólares por ano. “O balanço planetário aponta um patrimônio líquido negativo de cerca de dois mil dólares anuais para cada um dos mais de seis bilhões de habitantes, ou seja, eles não terão renda insuficiente para honrar seus compromissos com a preservação do meio ambiente, o que colocará a necessidade de redução das emissões ou negociação de créditos de carbono de outras nações”, explica Kassai.
Para Kassai, as situações privilegiadas do Brasil e da Rússia não serão suficientes para suportar o cenário geral, pois, juntos, os dois países representam menos de 5% do déficit total. “É fundamental que países como os Estados Unidos e a China comecem a tomar medidas concretas para diminuir as emissões”, diz Kassai.
O Estudo
A amostra considerada para o estudo incluiu sete países de grande relevância no mundo moderno. Juntos, eles representam 32% da área emersa do planeta, 50% da população mundial e 68% do Produto Interno Bruto (PIB) global. Os cenários futuros relativos ao meio ambiente empregados no levantamento são os gerados pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU).
A grande inovação do estudo foi a metodologia usada: através da equação básica da contabilidade empresarial, os pesquisadores calcularam o patrimônio líquido ambiental de cada país, buscando saber o custo do crescimento econômico em relação à preservação e manutenção dos recursos naturais. No cálculo, entraram variáveis como o PIB, o consumo médio de energia da população per capita de cada país, suas reservas florestais e matriz energética.

Construção: um desafio para o desenvolvimento sustentável

A indústria da construção é um dos setores que mais impulsiona a economia brasileira, mas tem um desafio importante: se tornar sustentável

A indústria brasileira de construção vive seu melhor momento dos últimos anos. O setor representa 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e emprega 2,1 milhões de trabalhadores com carteira assinada em todo o país. Para este ano, o crescimento deve ficar em torno de 10% em relação a 2007, segundo o Sindicato da Indústria de Construção (SINDUSCON-SP).
A contribuição da indústria nos setores sociais e econômico é aceitável, mas segundo Vanderley John, conselheiro do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) para se tornar sustentável, o setor precisa incorporar mais um item (meio ambiente), e desse modo, completar o tripé da sustentabilidade.
“Para equilibrar os impactos ambientais e sociais com os resultados econômicos, é fundamental que não se pense apenas na etapa de construção. O foco é o ciclo de vida do edifício, pois a maior parte dos impactos ambientais e sociais ocorre ao longo da escolha e compra de matéria prima, da operação do edifício e da gestão e reaproveitamento de resíduos”, recomenda.

O desafio
Para Francisco Vasconcelos, presidente do Comitê do Meio Ambiente do SINDUSCON-SP, “felizmente, nos últimos anos, o empresariado começou a enfrentar o problema como uma questão de sobrevivência do negócio”. Ainda assim, é forte a idéia de que a construção sustentável custa caro. Na opinião de John, essa falsa noção, aliada à informalidade e à falta de recursos humanos capacitados para a questão da sustentabilidade, constituem os principais entraves à introdução de práticas mais sustentáveis no setor.
“Já existem no mercado soluções e produtos economicamente viáveis, mas não são usados. A informalidade reduz drasticamente a possibilidade de políticas públicas sustentáveis e, quando isso acontece, esbarra na questão de agentes privados e públicos mal preparados para a questão”, explica.
A boa notícia é que entidades como a Caixa Econômica Federal (umas das principais financiadoras de construções populares no país) já estão introduzindo critérios de sustentabilidade nos processos de financiamentos. Por outro lado, segundo John, “o Brasil melhorou os procedimentos de gestão da qualidade; aprovou a norma de desempenho que exige durabilidade e conforto mínimos”.
Essas medidas são importantes para o crescimento sustentável do setor, principalmente porque, mesmo com o seu crescimento animador, o país ainda precisa suprir um déficit habitacional de oito milhões de unidades.

Soluções para construção sustentável no Brasil
A necessidade da construção sustentável tem uma ligação direta com a problemática das mudanças climáticas. A questão é global, mas as soluções são necessariamente locais. Nos Estados Unidos, por exemplo, é importante focar o consumo de energia de modo a se ter uma redução de emissões de CO2. No Brasil, o foco pode estar no uso da madeira de modo a evitar o desmatamento da Amazônia.
“A construção sustentável não tem receitas nem modelos universais. Ela depende da otimização de soluções para locais e projetos específicos: o desafio é buscar soluções que entreguem ao ser humano o ambiente construído com conforto, com menor impacto ambiental possível e maximizando os benefícios para sociedade como um todo”, explica John.
Segundo John, as melhores soluções de construção sustentável no Brasil, como no caso da redução do consumo de energia elétrica nas residências e da padronização das bacias sanitárias com capacidade de 6,8 litros, foram encontradas internamente. Por isso, o especialista entende que é um erro usar certificações globais. Nesse sentido, aponta que “Em São Paulo, por exemplo, temos edifícios certificados pelo Green Building Council (selo americano de construção sustentável) e que têm pontos de recarga de bateria de carro elétrico, o que é inadequado”.
Vasconcelos admite as críticas, mas ainda assim se mostra otimista e defende que, entre erros e acertos, muita coisa boa está sendo feita. “O Brasil está no caminho certo e pode até se tornar líder mundial do setor quanto à observância da sustentabilidade, o que precisamos é massificar a responsabilidade socioambiental das empresas”, explica. Entre os exemplos de sustentabilidade na indústria da construção apontados pelo executivo estão a gestão de resíduos, a crescente adesão ao uso de madeira certificada bem como de outras matérias primas produzidas de forma sustentável.
Especialistas, entretanto, alertam que as novas construções podem contribuir para resolver apenas uma parcela pequena do problema. Afirmam que é necessário também investir em reformas. “O consumidor deve saber do potencial que tem para reduzir consumo de água, de energia e melhorar a segregação do lixo. Ele deve saber, por exemplo, que a substituição de uma fachada por vidro e a troca dos equipamentos de ar condicionado são soluções que podem reduzir o consumo de energia em até 50%, alertou.

Repensando o uso do automóvel

Diversas cenas marcam o vai-e-vem nos grandes centros urbanos do país. Mas os automóveis dominam as ruas nos grandes centros urbanos

Por Naná Prado, para o Instituto Akatu pelo Consumo Consciente

Cena 1: nada mais comum do que observar uma fila interminável de carros parados no trânsito soltando muita fumaça. Dentro, pessoas impacientes, também soltando muita fumaça.
Cena 2: ônibus, metrôs e trens lotados. Pessoas desesperadas para entrarem nas conduções, sentarem e, quem sabe, tirarem um cochilo no longo caminho até seus destinos.
Cena 3: depois de tentar todos os meios de transporte possíveis, Carla Maricondi, arquiteta, 27 anos, decide levar um tênis para o trabalho e voltar a pé.
Cena 4: ciclistas pedalam entre os carros, fazendo inveja aos motoristas confinados.
Diversas cenas marcam o vai-e-vem nos grandes centros urbanos do país. Mas são os motores que dominam as ruas, que não foram planejadas para o uso da bicicleta como meio de transporte. Muitas cidades nem mesmo têm calçadas adequadas para aqueles cidadãos que desejam caminhar na volta para casa.
Com o início da indústria automobilística no Brasil, no final da década de 50, ter um carro passou a ser o sonho de muitos brasileiros. Os governos concentraram grandes esforços na infra-estrutura rodoviária. Apesar de o transporte coletivo ter ganhando espaço, o carro ainda domina de longe as ruas dos grandes centros metropolitanos. São gastos recursos públicos de enorme monta na construção de túneis, viadutos, recapeamento e outras obras com foco no automóvel, um veículo que oferece uma má relação entre o espaço ocupado nas ruas e o número de pessoas transportadas.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade de São Paulo atingiu em 2007, algo em torno de 11 milhões de pessoas. A frota de automóveis já ultrapassou 4 milhões, ou seja, pode-se dizer que a cada 3 pessoas, uma tem um carro. Enquanto isso, não há muito mais que 65 mil ônibus e micro-ônibus. Motos e motonetas somam quase 600 mil.
Dos números para a realidade
Uma pessoa que utiliza transporte coletivo consome 12 vezes menos combustível do que se utilizasse o carro e causa a emissão de 5 vezes menos gás carbônico. Após 1 ano, o indivíduo que utiliza o carro particular, terá causado a liberação da mesma quantidade de carbono que 10 árvores assimilam, em seu processo de crescimento, ao longo de 20 anos aproximadamente. Utilizando o transporte coletivo, a quantidade de carbono emitida por pessoa equivale a 1 árvore.
Se uma pessoa deixar de usar seu automóvel particular 1 vez por semana, durante 1 ano, mais de 200kg de gás carbônico deixarão de ser lançados na atmosfera. Além disso, essa mesma pessoa economizaria, ao longo desse ano, mais de 132 litros de combustível, o que equivale hoje a aproximadamente R$ 330,00.
Segundo o biólogo Cláudio Luis de oliveira, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), “a cada atitude individual, os impactos positivos do consumo consciente já se mostram surpreendentes. O trabalho coletivo se mostra como um poderoso instrumento de transformação da engrenagem da vida”.
Se os consumidores se tornarem conscientes do poder que têm sobre a escolha de produtos e serviços oferecidos, o custo do transporte poderia deixar de representar 22% da renda familiar do trabalhador paulistano e, se houver uma pressão sobre as municipalidades que regulam o transporte coletivo, poderia haver uma melhor na facilidade de acesso e na qualidade do serviço.

Mudança de hábitos
Aquele consumidor que prefere utilizar bicicleta, caminhar a pé ou até usar o transporte coletivo, ao invés do carro particular, “colabora também com a melhor circulação das pessoas pela cidade. Pois, uma pessoa, em um carro, ocupa em média, um espaço sete vezes maior do que ocuparia em um ônibus”, comenta Cláudio de Oliveira.
Além disso, de que adianta possuir um carro novo, com motor potente se a velocidade alcançada, ao menos nos centros urbanos, é muitas vezes menor que a de uma bicicleta? Nesse sentido, é inútil o avanço da alta tecnologia avança no desenvolvimento de motores cada vez melhores e na formulação de combustíveis cada vez menos poluentes. É preciso mudanças em outra direção para resolver o trânsito das grandes cidades.

Mudanças na lógica do deslocamento
Estudiosos, empresários e consumidores propõem as mais variadas alternativas para o trânsito das grandes capitais, entre elas a implementação de medidas para a redução da frota de carros, como o pedágio urbano e a restrição a estacionamentos, a melhoria no transporte público, o incentivo ao uso de bicicletas e políticas voltadas para criação de corredores de ônibus.
Silvia Olivella, 43 anos, é professora de Yoga e afirma que já teve carro mas não se atreve a sair dirigindo porque hoje o trânsito de São Paulo é muito agressivo.”Eu tenho medo de dirigir. Utilizo metrô e ônibus, mas gostaria que as linhas se cruzassem, assim não haveria tanta aglomeração de pessoas. “O que mais me irrita no metrô é a lotação, e no ônibus é a lentidão pelo trânsito”.
Boas idéias não faltam. Maria Cristina Nascimento mora em São Paulo e sugere mudanças na lógica do deslocamento, levando a atividade produtiva para os bairros dormitórios. Segundo ela, “muita coisa mudaria se os bairros onde as pessoas moram tivessem mais emprego e se, além disso, as empresas flexibilizassem os horários dos funcionários”. É preciso oferecer emprego, comércio e serviços públicos nos bairros.
Em época de eleições é comum ver empreiteiros propondo obras, como viadutos, túneis, entre outras. Recentemente, os empreiteiros de São Paulo propuseram aos candidatos à Prefeitura um plano de obras viárias estimado em mais de R$ 15 bilhões. “Tudo para ter mais espaço para os carros. Esse tipo de proposta só reforça a cultura do automóvel e no final o que se tem não é o efeito esperado”, afirma Maria Cristina. A lógica, segundo ela, deve ser a de olhar para a demanda e fazer com que haja menos necessidade de locomoção.
A ONG Rua Viva têm propostas semelhantes. Há duas décadas propunha um novo paradigma para a apropriação do espaço e do tempo na circulação de pessoas nas cidades, ou seja, em vez de mais transporte, menos distâncias e menor necessidade de deslocamento. Esses conceitos são fundamentais hoje para que a engenharia de tráfego possa ter eficácia. A lógica do transporte deve ir muita além de pensar a locomoção, deve servir de fio condutor para um novo padrão de comportamento.

Vou de bike! Será?
A começar pela questão ambiental, é preciso repensar o deslocamento dado que os veículos são grandes poluidores. Cerca de 80% da população brasileira anda a pé ou utiliza o transporte público, mas os 20% que utilizam o automóvel particular ocupam mais de 70% do espaço da cidade.
E, está provado: as bicicletas são o segundo meio de transporte mais rápido para trajetos urbanos de em média 15 quilômetros. Só perdem para as motos. No entanto, não liberam carbono na atmosfera, fazem bem para a saúde e tornam a metrópole mais humana.
Desde que veio para São Paulo, em 2001, Otavio Guzzo, 46 anos, advogado, decidiu que não gostaria de depender de carro para se locomover. “Decidi morar perto do trabalho. Dependo do metrô, mas posso ir caminhando”, afirma.
Segundo ele, seu projeto de usar a bicicleta foi fracassado porque não existe espaço para elas no trânsito de São Paulo. “Como sempre procurei respeitar a faixa da direita, vi que aqui não daria muito certo, porque ela é utilizada pelos ônibus, que passam ‘voando’. É um risco desnecessário”.
Só resta saber por que as bicicletas ainda se espremem nas avenidas. Se depender das leis, parece que as ciclovias ficarão só no papel e as cidades continuarão asfixiadas e paralisadas pelos congestionamentos. Se as bicicletas saírem às ruas e tiverem um espaço seguro, certamente os benefícios seriam muito grandes para todos.

Dia Mundial Sem Carro
Para ajudar nessa conscientização o Movimento Nossa São Paulo está programando várias atividades para o dia 22 de setembro, Dia Mundial Sem Carro. O objetivo é levar a sociedade e o poder público a refletir sobre o modelo atual de transporte e mobilidade urbana, pautado pelo transporte individual, que congestiona o trânsito e é o principal fator de poluição do ar.
A programação do Dia Mundial Sem Carro inclui “bicicletadas” e o “Desafio Intermodal”, no qual pessoas diferentes realizam o mesmo percurso por diferentes meios de transporte para aferir o tempo de deslocamento de cada um. Mais informações: http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/
O atual Secretário do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge, acredita que as coisas podem mudar devido ao problema ambiental dos grandes centros. "A crise do automóvel chegou ao limite. O uso excessivo do carro está causando um mal tremendo ao cidadão e exige dos administradores novas soluções para se locomover na cidade", alerta o secretário.
Bicicletário
No começo do ano foi inaugurado o primeiro Bicicletário Porto Seguro –Estapar, ambos associdados ouro do Akatu, no Novotel Jaraguá da rede Accor de Hotéis. Para o Secretário Eduardo Jorge, a iniciativa das empresas envolvidas é um grande incentivo para o uso de bicicletas na cidade. "A melhora do trânsito da cidade é como tratamento de hipertensão, depende de uma cesta de soluções, e certamente a bicicleta é uma delas", explicou.
Com o novo Bicicletário do Novotel Jaraguá, os clientes Porto Seguro Auto terão à sua disposição bicicletas para circular também pelo Centro de São Paulo e adjacências. Para a utilização, basta apresentar o cartão de segurado da Porto Seguro e o RG e retirar a bicicleta e o capacete. "Além de difundir o uso de bicicletas como meio de transporte, a ação estimula os segurados a adotarem hábitos mais saudáveis e ainda pode promover a redução da emissão de poluentes", explica Fábio Luchetti, vice-presidente executivo da Porto Seguro. "Conforme os resultados do projeto, poderemos abrir o aluguel de bicicletas aos não-segurados", afirma. Atualmente, a bicicleta emprestada deve ser devolvida até as 20hs do mesmo dia em que foi retirada, em qualquer um dos estacionamentos da rede Estapar participantes. Ciclistas não-segurados também podem estacionar suas bicicletas no local, arcando com a tarifa de R$ 2,00 por um período de 12 horas.

Os próximos passos
Ao se questionar sobre a forma como nosso deslocamento impacta o mundo, o consumidor consciente deve ter em mente:
· O meu transporte gera poluição? Há como reverter esse quadro?
· No caso do automóvel, eu o utilizo somente quando não há outra forma de transporte?
· Como eu posso mudar os meus deslocamentos e evitar o agravamento do congestionamento?
· Há formas de eu me deslocar que causem menos impactos a mim e a outras pessoas?
As perguntas são muitas. Mas, o importante é ter em mente que todo processo de consumo tem impacto e gera uma reação em cadeia que acaba afetando a todos. Nesse sentido, também na forma de nos transportarmos, nossas escolhas podem trazer uma grande contribuição positiva tanto do ponto de vista social como ambiental e nosso exemplo pode mobilizar outras pessoas nessa mesma direção.

Resistências caem quando o lucro aparece*

Por Ricardo Abramovay
Uma nova economia está nascendo. Não suprime a empresa privada, os interesses individuais, a motivação do lucro, o mercado ou as grandes corporações. Ainda assim, cuida de repensar o propósito e o funcionamento dos sistemas produtivos modernos. O foco é a construção de uma relação inédita entre sociedade e natureza e, ao mesmo tempo, entre economia e ética. Não se trata apenas de denúncia ou protesto, e sim de uma explosão criativa que começa a oferecer expressão prática à idéia de que é possível produzir e viver de maneira diferente daquela que marca o apogeu da civilização ocidental.
Os conhecimentos e as técnicas disponíveis, bem como os movimentos sociais que respondem pelas mudanças nos comportamentos de empresas e dos governos, permitem anunciar, ainda que timidamente, a emergência de uma economia sustentável. Não há qualquer garantia quanto ao desfecho desse processo, cujos componentes não se articulam de maneira organicamente coordenada. Mas a diversidade social de suas manifestações lhe imprime uma força impressionante.
Fundado em 1974, o Worldwatch Institute é pioneiro no estudo de temas ambientais globais. O relatório comemorativo dos 25 anos de publicações é uma espécie de síntese do estado da arte no que se refere às inovações para uma economia sustentável. O livro, com catorze capítulos, escritos em linguagem acessível ao leitor não especialista, vai da energia à gestão de recursos comuns, passando por consumo sustentável e gestão das águas. O ponto de partida é a constatação de que a maneira de medir a riqueza nas sociedades contemporâneas está completamente ultrapassada. O tema tem sido abordado por José Eli da Veiga e Marcelo Néri em colunas de opinião do Valor. John Talbert, diretor do Programa de Indicadores de Sustentabilidade do Redefining Progress e um dos criadores das técnicas de cálculo de pegada ecológica (http://www.myfootprint.org/en/) mostra a existência de um consenso entre "pesquisadores, governos e sociedade civil sobre a necessidade de uma rápida transição para um sistema econômico no qual o progresso seja medido pela melhoria do bem estar, mais que pela expansão da escala e do escopo das atividades econômicas de mercado.
Precisamos medir o progresso econômico pelo quão rapidamente seremos capazes de construir uma plataforma de energia renovável, alcançar as necessidades humanas básicas, desencorajar o desperdício no consumo e investir em melhorar (e não em degradar) os capitais cultural e natural". Apesar da distância que nos separa de um substituto do PIB, já há sinais que mostram o contraste entre bem-estar real medidas convencionais de riqueza.
Os US$ 10,8 trilhões do PIB americano de 2004 reduzem-se a US$ 4,4 trilhões quando se aplica o "indicador de progresso genuíno", que inclui os benefícios de atividades não mercantis, como o trabalho voluntário, e se desconta a extrema desigualdade e a degradação ambiental, pois não fazem genuinamente parte daquilo que oferece bem-estar à sociedade.
No plano microeconômico, há também um forte movimento para alterar as medidas de eficiência empresarial. Talbert lista, nesse sentido, cinco objetivos básicos: certificação de produtos, eco-eficiência, bem-estar no ambiente de trabalho, vitalidade comunitária e desperdício zero. Desperdício zero pode parecer exagero fundamentalista. Longe disso. Trata-se de um dos mais notáveis traços do que L. Hunter Lovins, autora do capítulo "Repensar a produção", chama de sexta onda da revolução industrial e que teve início em meados dos anos 1990. Ela escreveu, há quase dez anos "Capitalismo Natural", com Paul Hawkens e Amory Lovins (Cultrix - Amaná Key). Agora ela atualiza o tema, mostrando o poder e a profusão das técnicas baseadas na biomimética.
O movimento nessa direção já vem dos anos 1970, quando o arquiteto suíço Walter Stahel, na direção do Product-Life Institute de Zurique, criou a expressão "de berço a berço" ("cradle to cradle"). A idéia central não está em reciclar como meio de atenuar os danos ambientais, mas em conceber produtos agrícolas e industriais que integrem o próprio metabolismo natural, que tenham o poder de fortalecer e até regenerar os ecossistemas.
Como a natureza levaria isso adiante? É uma verdadeira consigna que organiza o que de mais avançado se faz hoje em termos de inovação industrial. Os relatos de ganhos empresariais em torno dessas novas tecnologias mostram que elas embutem um potencial imenso. Suas repercussões no design, no planejamento urbano e no uso da energia são extraordinárias. Essa nova onda de inovações ajuda a enfrentar o que Christopher Flavin, pesquisador do WWI, chama de desafio central de nosso tempo: a descarbonização da matriz energética das economias contemporâneas. Oitenta por cento da energia que move o sistema econômico mundial são de origem fóssil. Desde 1950, as emissões de carbono derivadas dessa energia fóssil aumentaram cinco vezes. Só de 1990 para cá o aumento foi de 30%. Os interesses e a inércia institucional em torno desses padrões produtivos são poderosíssimos.
Mas há, ao menos, dois sinais importantes de mudança. O primeiro é uma tomada de consciência mais ou menos generalizada a respeito do desperdício de energia. O segundo é a evidência de que investimentos privados em energias alternativas são altamente rentáveis: nos últimos cinco anos, a manufatura de turbinas a vento cresceu 17% anualmente e a de energia solar, 46%. No Vale do Silício, uma economia pós- pontocom emerge em torno das energias alternativas. Um dos maiores riscos está no contraste entre o que essas tecnologias alternativas prometem e a tendência de muitos governos a concentrar esforços no petróleo e, pior, no carvão.
Essas inovações não abolem uma questão central relacionada ao propósito e ao funcionamento das economias modernas: seus estilos de vida e, antes de tudo, seus padrões de consumo. A abundância anunciada pelo capitalismo natural e a biomimética têm como contrapartida um movimento mais geral, em que os bens e os serviços que se obtêm no mercado não são finalidades, mas meios pelos quais os indivíduos melhoram seu bem-estar e sua inserção social.
A sustentabilidade supõe um passo que a desigualdade social torna ainda mais difícil: a construção de uma economia da suficiência, que exprima relação inteligente e parcimoniosa entre sociedade e natureza. Ninguém sabe de que maneira chegaremos lá. A grande virtude do trabalho do Worldwatch Institute é mostrar que começam a se formar condições materiais e institucionais que dão consistência a essa grande utopia de nosso tempo, que é o desenvolvimento sustentável.
*Artigo publicado originalmente no Jornal Valor Econômico
Ricardo Abramovay é professor titular do Departamento de Economia da FEA/USP, coordenador de seu Núcleo de Economia Socioambiental (NESA) e pesquisador do CNPq
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domingo, 16 de novembro de 2008

Pela primeira vez, o saldo de empregos em 12 meses (ago/2007 a ago/2008) ultrapassou a marca dos dois milhões de postos formalizados.

Maurício Hashizume*
Não é preciso ser especialista para reconhecer a relação direta entre o ritmo da economia e a geração de empregos. Ainda está bem viva na memória dos brasileiros a dura recessão da década de 80, que perdurou durante grande parte dos anos 90 e afastou muita gente do mercado de trabalho.
Nos últimos anos, a retomada do crescimento econômico ajudou a criar um ambiente mais favorável para quem está disposto a batalhar por um posto de trabalho. Em pleno mês de agosto, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) registrou a criação de mais de 1,8 milhão de novas vagas preenchidas no país, superando a meta que o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) estabelecera para todo o ano de 2008. Nos primeiros oito meses de 2007, o mesmo índice ficou em 1,3 milhão de empregos. O recorde anterior, do ano de 2004, era de 1,4 milhão.
Pela primeira vez, o saldo de empregos em 12 meses (agosto de 2007 a agosto de 2008) ultrapassou a marca dos dois milhões de postos formais. As estatísticas das contratações mostram também uma elevação dos níveis de emprego em diversos setores e em várias regiões do país.
“O principal destaque nos dados divulgados para o ano foi a taxa de desemprego metropolitana, que passou de um patamar de 9,9% na média do primeiro semestre de 2007 para 8,3% na média do mesmo período de 2008, o que equivale a uma diminuição de 1,6 ponto percentual (p.p.) no período”, destaca o último Boletim de Conjuntura sobre Mercado de Trabalho do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), divulgado em agosto.
O percentual de pessoas no trabalho formal atingiu 49% do total dos ocupados, segundo dados do 1º quadrimestre de 2008 da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se da maior porcentagem de formalização desde que a metodologia foi adotada.
Diante de tantos resultados positivos, o relatório Emprego, Desenvolvimento Humano e Trabalho Decente: A Experiência Brasileira Recente, resultado de um esforço conjunto da Organização Internacional do Trabalho (OIT), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), traz alertas e análises que destacam um outro lado menos exuberante: o déficit “social” do trabalho.
Lançado em setembro, o estudo reconhece o crescimento econômico como um fator determinante para o combate à pobreza e às desigualdades sociais, mas não deixa de apontar limitações relevantes. Nesse sentido, posiciona os quatro pilares da agenda do trabalho decente (criação de emprego de qualidade para homens e mulheres, extensão da proteção social, promoção e fortalecimento do diálogo social e respeito aos princípios e direitos fundamentais no trabalho) como elos entre as condições favoráveis da economia e melhorias concretas no índice de desenvolvimento humano (IDH).
“É muito bom que haja crescimento econômico, mas ele não pode ser selvagem. O trabalho decente busca conciliar a idéia de produtividade com justiça social”, explica Laís Abramo, diretora do escritório da OIT no Brasil. “Em 2006, a análise das Américas feita pela OIT identificou um déficit de trabalho formal de 53% da População Economicamente Ativa (PEA). Isso corresponde a 126 milhões de pessoas. Desse total, 103 milhões estão submetidos a trabalhos informais e 23 milhões estão desempregados ou migraram para outras regiões”, contextualiza.
A partir da evolução recente do mercado de trabalho no Brasil, o trabalho assinado pelos três organismos ligados à Organização das Nações Unidas (ONU) confirma as melhorias verificadas no mercado de trabalho entre 1990 e 2005. Além da relação favorável entre o incremento do Produto Interno Bruto (PIB) e a geração de empregos, houve aumento do nível de ocupação e da formalização, leve melhoria nos rendimentos do trabalho e maior valorização da escolaridade na hora da contratação.
Por meio da avaliação de 28 indicadores coletados entre 1992 a 2006, os autores identificaram um processo de reversão da trajetória de desestruturação do mercado de trabalho (que marcou principalmente as últimas décadas do século passado), mas demonstraram que algumas características problemáticas não foram superadas ao longo do tempo.
Desigualdades
O relatório ressalta, por exemplo, a persistência da significativa diferença entre homens e mulheres no mercado de trabalho. A taxa de participação das mulheres aumentou nos últimos anos, mas a diferença continua sendo de 23 pontos percentuais (58,9% do total das mulheres fazem parte do universo dos trabalhadores - empregados ou não -, em comparação com 82% dos homens, verificados em 2006). O nível de ocupação das mulheres passou de 48,5%, em 1992, para 53,3%, em 2006 e cresceu mais que o dos homens. A diferença, que era de 33 pontos percentuais em 1992, caiu para 24 pontos percentuais em 2006, mas continua relativamente alta.
Outro índice que recuou muito pouco na análise histórica é a desigualdade de remuneração entre homens e mulheres, ainda mais aguda quando o foco se volta para as diferenças raciais. Em 1992, as mulheres recebiam 61,5% dos rendimentos dos homens e os negros, em geral, ganhavam 50% dos brancos. Em 2006, o primeiro índice chegou a 70,7% e o segundo oscilou para 53,2%. Ou seja, 14 anos se passaram e a disparidade racial praticamente não mudou. “Um dos técnicos que analisou gráficos brasileiros disse que os índices de desigualdades seguem uma trajetória próxima da linha reta, muito semelhante ao batimento cardíaco de um morto”, analisa Laís Abramo, da OIT Brasil.
Dados sobre a diferença de rendimentos entre negros e brancos são apresentados quase sempre são acompanhados pela ressalva da possível existência de diferença na escolaridade. Outra estatística de 2006, porém, revela a proporção dos abismos de gênero e raça no Brasil. Apenas entre pessoas com 15 anos ou mais de escolaridade, os homens negros recebiam 73,9% em comparação aos ganhos dos homens brancos. Já os salários das mulheres brancas e das mulheres negras batiam, respectivamente, em 56,2% e em 41,1% do salário dos mesmos homens brancos.
Apesar da detecção de algumas mudanças neste quadro desigual, outro índice que preocupa é o da distribuição funcional da renda. A diferença entre a remuneração dos empregados (trabalho) e o excedente operacional bruto (capital) tem sido cada vez mais desfavorável para a base da pirâmide social. Em 1995, a distribuição era de 57,7% para os trabalhadores e de 42,3% para o capital. Em 2005, essa mesma divisão mudou para 53,3% e 47,7%.
Margem e rendimento
Apesar do importante aumento dos níveis de ocupação e do emprego formal, a taxa de informalidade continua alta e a escala de desempregados ainda é expressiva. De acordo com a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e pela Fundação Seade, em agosto de 2008 foram contabilizadas 2,91 milhões de pessoas desempregadas nas seis regiões metropolitanas pesquisadas - Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS), Recife (RE), Salvador (BA), São Paulo (SP) e Brasília (DF) -, 22 mil a menos do que no mês anterior. Na avaliação de Patrícia Lino Costa, do Dieese, ainda há muita margem para a redução desses índices. A taxa de desemprego total de 14,6% já foi de apenas cerca de 9% em 1989.
A pesquisadora ressalta ainda que uma porcentagem substantiva de desempregados com baixa qualificação (cerca de 20%) permanece fora do mercado formal por períodos longos - mais de um ano sem emprego. Eles se encontram nas estatísticas dos desempregados ocultos (por trabalho precário ou por desalento) do PED do Dieese. Curiosamente, o boletim de agosto do Ipea diagnosticou ainda uma reversão da tendência de queda da informalidade, que voltou a crescer em maio e junho deste ano.
Parcela grande dos empregos que estão sendo formalizados dizem respeito a segmentos de baixa remuneração. Dados do Caged do MTE mostram que 82% das vagas criadas em maio de 2008 se deram na faixa de remuneração entre 0 a 2 salários mínimos. Apenas 5% dos empregados registrados no mês recebiam mais que quatro salários mínimos, ou seja, R$ 1.660,00. O salário mínimo necessário para a garantia dos direitos básicos dos cidadãos calculado pelo Dieese para o ano de 2006 ficou em R$ 1.564,00.
Já a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2007, divulgados pelo IBGE, revela que o rendimento médio real dos trabalhadores passou de R$ 831, em 2004, para R$ 960, em 2007. Apesar do salto, a média de R$ 1.011,00, registrada em 1997, ainda não foi superada.
A despeito do pequeno recuo do índice de Gini da renda do trabalho, a distribuição desigual dos rendimentos ainda é acachapante. No ano passado, a camada dos 10% que ganha menos ficou com apenas 1,1% do total dos rendimentos do trabalho, enquanto que a nata dos 10% que ganham melhores salários abocanhou 42% do total das remunerações.
Corte de custos
Do conjunto de problemas relacionados ao mercado de trabalho, um dos mais preocupantes é o da rotatividade de mão-de-obra. Nos últimos dez anos, as taxas de rotatividade se mantiveram em patamares elevados, acima de 40% praticamente em todo o período. Em 2007, o saldo de contratações formais superou o de demissões em cerca de 1,6 milhão (Caged), quantidade 5,85% superior a 2006. Esse 1,6 milhão derivou da admissão de 14,3 milhões de trabalhadores e da demissão de outros 12,7 milhões. Dessa soma de empregados desligados do emprego, 59,4%, ou 7,6 milhões foram dispensados por meio de demissões sem justa causa ou imotivada.
Com base no cruzamento da alta rotatividade com os tímidos resultados nos índices de rendimento, a pesquisadora Patrícia Lino, do Dieese, afirma que a substituição de empregados vem sendo utilizada para reduzir os custos das empresas. Essa tendência impede a qualificação e o treinamento mais apurado dos trabalhadores com vistas à estabilidade de médio e longo prazo, o que poderia contribuir para a melhoria dos rendimentos.
“Os salários dos trabalhadores admitidos no triênio 2005-2007 foram sempre inferiores aos dos trabalhadores desligados (nem todos por justa causa). Os percentuais de redução foram 11,42%, em 2005, 11,06%, em 2006, e 9,15%, em 2007. Ou seja, no momento da contratação, os novos trabalhadores são, na maior parte, contratados com salários menores, o que implica redução gradual do salário médio”, coloca nota técnica do Dieese a respeito da Convenção 158 da OIT, que estabelece garantias contra a dispensa imotivada.
“De um modo geral, a permanência no mesmo emprego traz qualidade ao trabalho e este fato, combinado com investimentos na qualificação, tende a ser um fator determinante para o aumento da produtividade, uma vez que a mão-de-obra mais qualificada é mais preparada para promover a inovação”, completa a nota. O MTE e o Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat) estimam que 9,7 milhões de pessoas serão demitidas em 2008, o que representa cerca de 30% do mercado formal de trabalho.
Mas nem tudo está perdido. “Níveis mais elevados de emprego dão a segurança (e possivelmente os recursos) necessários para que uma família possa proporcionar melhor educação a seus filhos. Ao mesmo tempo, é provável que uma população mais educada consiga melhores colocações”, sustenta o relatório, que sublinha a promoção do trabalho decente como elo para a melhoria da qualidade de vida.
*em parceria com a Revista do Brasil
(Repórter Brasil)