A indústria da construção é um dos setores que mais impulsiona a economia brasileira, mas tem um desafio importante: se tornar sustentável
A indústria brasileira de construção vive seu melhor momento dos últimos anos. O setor representa 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e emprega 2,1 milhões de trabalhadores com carteira assinada em todo o país. Para este ano, o crescimento deve ficar em torno de 10% em relação a 2007, segundo o Sindicato da Indústria de Construção (SINDUSCON-SP).
A contribuição da indústria nos setores sociais e econômico é aceitável, mas segundo Vanderley John, conselheiro do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) para se tornar sustentável, o setor precisa incorporar mais um item (meio ambiente), e desse modo, completar o tripé da sustentabilidade.
“Para equilibrar os impactos ambientais e sociais com os resultados econômicos, é fundamental que não se pense apenas na etapa de construção. O foco é o ciclo de vida do edifício, pois a maior parte dos impactos ambientais e sociais ocorre ao longo da escolha e compra de matéria prima, da operação do edifício e da gestão e reaproveitamento de resíduos”, recomenda.
O desafio
Para Francisco Vasconcelos, presidente do Comitê do Meio Ambiente do SINDUSCON-SP, “felizmente, nos últimos anos, o empresariado começou a enfrentar o problema como uma questão de sobrevivência do negócio”. Ainda assim, é forte a idéia de que a construção sustentável custa caro. Na opinião de John, essa falsa noção, aliada à informalidade e à falta de recursos humanos capacitados para a questão da sustentabilidade, constituem os principais entraves à introdução de práticas mais sustentáveis no setor.
“Já existem no mercado soluções e produtos economicamente viáveis, mas não são usados. A informalidade reduz drasticamente a possibilidade de políticas públicas sustentáveis e, quando isso acontece, esbarra na questão de agentes privados e públicos mal preparados para a questão”, explica.
A boa notícia é que entidades como a Caixa Econômica Federal (umas das principais financiadoras de construções populares no país) já estão introduzindo critérios de sustentabilidade nos processos de financiamentos. Por outro lado, segundo John, “o Brasil melhorou os procedimentos de gestão da qualidade; aprovou a norma de desempenho que exige durabilidade e conforto mínimos”.
Essas medidas são importantes para o crescimento sustentável do setor, principalmente porque, mesmo com o seu crescimento animador, o país ainda precisa suprir um déficit habitacional de oito milhões de unidades.
Soluções para construção sustentável no Brasil
A necessidade da construção sustentável tem uma ligação direta com a problemática das mudanças climáticas. A questão é global, mas as soluções são necessariamente locais. Nos Estados Unidos, por exemplo, é importante focar o consumo de energia de modo a se ter uma redução de emissões de CO2. No Brasil, o foco pode estar no uso da madeira de modo a evitar o desmatamento da Amazônia.
“A construção sustentável não tem receitas nem modelos universais. Ela depende da otimização de soluções para locais e projetos específicos: o desafio é buscar soluções que entreguem ao ser humano o ambiente construído com conforto, com menor impacto ambiental possível e maximizando os benefícios para sociedade como um todo”, explica John.
Segundo John, as melhores soluções de construção sustentável no Brasil, como no caso da redução do consumo de energia elétrica nas residências e da padronização das bacias sanitárias com capacidade de 6,8 litros, foram encontradas internamente. Por isso, o especialista entende que é um erro usar certificações globais. Nesse sentido, aponta que “Em São Paulo, por exemplo, temos edifícios certificados pelo Green Building Council (selo americano de construção sustentável) e que têm pontos de recarga de bateria de carro elétrico, o que é inadequado”.
Vasconcelos admite as críticas, mas ainda assim se mostra otimista e defende que, entre erros e acertos, muita coisa boa está sendo feita. “O Brasil está no caminho certo e pode até se tornar líder mundial do setor quanto à observância da sustentabilidade, o que precisamos é massificar a responsabilidade socioambiental das empresas”, explica. Entre os exemplos de sustentabilidade na indústria da construção apontados pelo executivo estão a gestão de resíduos, a crescente adesão ao uso de madeira certificada bem como de outras matérias primas produzidas de forma sustentável.
Especialistas, entretanto, alertam que as novas construções podem contribuir para resolver apenas uma parcela pequena do problema. Afirmam que é necessário também investir em reformas. “O consumidor deve saber do potencial que tem para reduzir consumo de água, de energia e melhorar a segregação do lixo. Ele deve saber, por exemplo, que a substituição de uma fachada por vidro e a troca dos equipamentos de ar condicionado são soluções que podem reduzir o consumo de energia em até 50%, alertou.
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