domingo, 16 de novembro de 2008

Economia: duas conferências internacionais sobre a crise

Thalif Deen, da IPS
Na medida em que a crise financeira continua se espalhando por todo o planeta, cerca de 30 chefes de governo prevêem participar nas próximas duas semanas de duas conferencias internacionais para buscar soluções de curto e longo prazos. A cúpula do Grupo dos 20, que reúne o Grupo dos Sete países mais ricos e 12 emergentes, acontecerá em Washington na próxima sexta-feira (14/11) e no sábado (15/11). Nesta ocasião, também se somarão o primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, integrando a delegação da União Européia. A segunda reunião, a conferência da Organização das Nações Unidas sobre financiamento para o Desenvolvimento (FpD) em Doha, no Qatar, se prolongará por quatro dias a partir de 29 deste mês e está aberta à participação dos 192 países que integram a ONU.
Consultado pela IPS sobre a possível superposição de tarefas entre as duas reuniões, o secretário-executivo da FpD, Oscar de Rojas, disse que a cúpula deste fim de semana se concentrará em delinear medidas especificas para atacar a crise financeira. Mas, não irá muito além em termos de reformas fundamentais do sistema econômico e financeiro mundial, acrescentou. “Esta reunião poderia ser vista como complementar, ou como um insumo, das deliberações em Doha”, disse. “Acreditamos que haverá oportunidades para que as questões na agenda da cúpula sejam discutidas em um fórum mais amplo da comunidade internacional, e cremos que a conferência de Doha é uma boa ocasião”, acrescentou Rojas.
A reunião foi programada inicialmente como uma cúpula do Grupo dos Oito países mais industrializados (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Itália, Japão e Rússia). Finalmente, devido à amplitude da agenda, reunirá, além desses países, os emergentes, Brasil, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, China, coréia do Sul, Índia, Indonésia, México, África do Sul e Turquia (a Rússia integra os dois grupos) e a UE como bloco. O presidente da Assembléia Geral da ONU, Miguel D’Escoto Brockmann, alertou que qualquer discussão sobre a crise financeira deve ser “inclusive, não excludente. O âmbito para deliberar não é o G-8, o G-20, o G-25 nem o G-63. É o G-192, a Assembléia Geral”, enfatizou.
O presidente norte-americano, George W. Bush, que assumiu um papel-chave na cúpula de Washington, não irá propor, ao que parece, uma mudança radical nas instituições financeiras mundiais, Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional, nem aumentos substanciais no financiamento ao desenvolvimento. Trata-se de duas idéias que tiveram lugar nas últimas semanas em círculos diplomáticos. O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, disse que na reunião se procurará estabelecer medidas para “aplacar de imediato a crise, por exemplo, através de respostas políticas coordenadas e do financiamento para restaurar a confiança e o crescimento”.
Além disso, acrescentou, a cúpula devera considerar questões para o longo prazo referentes à arquitetura financeira internacional, como reparar “um sistema regulatório inadequado” e desenvolver um sistema confiável de alerta e resposta rápidas. Em seu último informe, o FMI previu uma queda do crescimento econômico mundial de 2,2% para 2009, contra 3,7% previsto para o final deste ano e de 5% em 2006. No entanto, a reunião de Doha fará um acompanhamento da primeira conferência internacional sobre FpD realizada em 2002 na cidade de Monterrey, no México.
O rascunho da declaração final da conferência se refere a vários assuntos vinculados com a crise, como mobilização de recursos financeiros nacionais e internacionais para o desenvolvimento, busca de novas fontes para esse financiamento, comércio internacional e aumento da assistência oficial ao desenvolvimento. O documento indica que varias fontes inovadoras de financiamento ao desenvolvimento se tornaram realidade ou estão em avançado estado de criação para sua implementação. Entre elas, menciona os fundos criados com a participação do setor privado na luta contra a Aids, a tuberculose e a malária, ou para campanhas de vacinação. “Reconhecemos que esse fundos devem somar, e não substituir, à ajuda oficial ao desenvolvimento, e que não devem constituir encargos indevidos sobre os países pobres”, diz o texto.
O rascunho do documento considera necessária a convocação de uma conferência internacional para revisar a arquitetura do sistema financeiro e monetário internacional e as estruturas econômicas globais, em especial o FMI. Os representantes dos países preparam a reunião em Doha a todo vapor. “As negociações importantes na ONU sempre são lentas e meticulosas. Ontem somaram-se várias sessões ao calendário: haverá praticamente duas reuniões diárias nas próximas duas semanas”, disse D’Escoto.
Vários chefes de Estado e de governo já confirmaram sua participação na reunião de Doha, disse D’Escoto. No começo deste mês o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon , anunciou que nessa oportunidade se desenvolverá “uma discussão informal, em nível de cúpula, sobre a crise financeira e a reforma do sistema econômico”.
(Envolverde/IPS)

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