Paula Scheidt, do CarbonoBrasil
Se hoje os altos preços do barril de petróleo e dos alimentos andam dando dor de cabeça para muita gente, em breve a preocupação deverá ser com o custo da água. Com o crescimento populacional e a falta de condições sanitárias adequadas principalmente nos países em desenvolvimento, uma Crise Mundial da Água pode estar eminente, segundo alguns especialistas e, um mercado mundial de água potável já é visto como um caminho para minimizar as perdas.
“Por trás da crise alimentar está uma crise global por água potável, com expectativas de se tornar ainda pior com a intensificação dos impactos das mudanças climáticas”, disse o diretor geral da WWF, James Leape, que falará nesta terça-feira (19) na Semana Mundial da Água, evento que reúne, em Estocolmo, 2,5 mil especialistas em água de todo o mundo. Cerca de 1,4 bilhões de pessoas vivem hoje em áreas que dependem de bacias hidrográficas que estão secando e outros um bilhão de indivíduos já sofrem com a falta de água potável para beber, o que diminui a expectativa de vida ou causa problemas de desenvolvimento imprevisíveis. O evento foi aberto oficialmente nesta segunda-feira (18/8), com o pronunciamento do professor britânico Anthony John Allan, que recebeu o Prêmio da Água de Estocolmo 2008. Durante estudos sobre a falta de água no Oriente Médio, o professor Allan, da Universidade King’s College de Londres (UK), desenvolveu o conceito “água virtual”, que seria o volume de água potável usada para produzir um produto, medida no lugar onde o produto foi realmente fabricado.
Através desta concepção, o problema da água passa para o campo político e pode cair no comércio internacional. Allan sugere a utilização da importação virtual da água, através dos produtos e alimentos, como uma alternativa de “fonte” de água potável para reduzir a pressão sobre bacias hidrográficas disponíveis em países que já lidam com a escassez. Na palestra "Conhecendo a água e entendendo porque nós a usamos e consumimos deste modo" , proferida ontem, o professor Allan alertou para os padrões de consumo de água dos países do hemisfério norte, que desperdiçam água através do consumo de alimentos e poluição, e das nações do sul, onde é preciso melhorar a eficiência no uso da irrigação do solo.
"A água virtual é, evidentemente, uma questão muito política”, afirmou, destacando que, ambos, a água virtual e sua migração, são invisíveis e a sociedade precisa ter consciência deste processo para que sejam obtidos avanços com relação ao modo como a água é consumida. Países como Estados Unidos, Argentina e Brasil “exportam” bilhões de litros de água por ano, segundo Allan; enquanto outros como Japão, Egito e Itália importam bilhões.
Allan sugere que os produtos que necessitam uma maior quantidade de água sejam importados de países que possuem mais disponibilidade hídrica. Comércio de água Assim como para o clima, o mercado já desenvolveu também ferramentas para lidar com a questão da poluição da água, como nos Estados Unidos, onde em 2003 foi criado um comércio voluntário de créditos de redução de poluição.
Neste sistema, uma indústria ou empresa que tem um alto custo para controlar a poluição que produz pode comprar créditos de redução de poluição de outras que tenham um custo mais baixo para reduzi-la, diminuindo assim os custos para cumprir as obrigações ambientais.
A China também já experimenta a criação de um mercado de água para aliviar as diferenças de disponibilidade dentro do seu território. Em fevereiro deste ano, o país criou um esquema de alocação de direitos sobre a água de províncias, regiões autônomas e municípios que estejam diretamente sob a jurisdição do governo central. “Enquanto a demanda por água se mantém alta, os resíduos líquidos se mantém perversos devido ao ‘livre acesso’ a recursos hídricos atualmente na China”, ressalta o gerente do programa chinês da ong Worldwatch Institute, Yingling Liu. Ele explica que, de acordo com as estatísticas, o coeficiente de utilização do país para irrigação agrícola era de apenas 0,4 a 0,5 em 2003, comparado a 0,7 a 0,8 dos países industriais.
O uso de água por unidade do produto interno bruto estava em 413 metros cúbicos, quatro vezes a média mundial, enquanto que o uso de água por valor adicionado pela indústria era de 218 metros cúbicos, 5 a 10 vezes o nível de países industriais. Em 2000, o país teve uma primeira experiência de comércio de água, quando a cidade de Dongyang comprou 50 milhões de metros cúbicos de água anualmente de Yiwu, por US$ 0,57 por metro cúbico. Até 2005, ambos os lados foram beneficiados, até que uma forte seca atingiu Yiwu.
A cidade evitou os custos significativos de ter que construir um reservatório próprio porque Dongyang passou a receber fundo para manter um reservatório existente. Desde então o país lançou diversos testes em iniciativas locais para aliviar crises de água ou esforços do governo para promover economia. Segundo Liu, isto deu confiança para que os politicos exploraressem um esquema nacional, resultando nas regulamentações recentes. “Se tornar-se efetivamente lei, poderá ser tão significativa quanto a reforma de terra largamente adotada nos anos 50, que liberou os trabalhadores rurais e tornou possível alimentar a nação de 1,3 bilhões de pessoas. Apesar de muito trabalho ainda ser necessário, uma regulamentação é um grande passo em direção ao gerenciamento hídrico na China”, disse.
(Envolverde/Carbono Brasil)
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