domingo, 12 de abril de 2009

Crise financeira ameaça planejamento familiar

Thalif Deen, da IPS

A propagação da crise financeira global ameaça prejudicar outro dos principais objetivos da Organização das Nações Unidas em saúde e desenvolvimento: o planejamento familiar. Funcionários da ONU expressaram seu temor de que os fundos propostos para os serviços de saúde reprodutiva não cheguem ao seu objetivo. Segundo as mais recentes cifras, as doações internacionais aos programas de população continuaram crescendo nos últimos anos, passando de US$ 7,6 bilhões em 2006 para US$ 8,1 bilhões em 2007. O financiamento projetado ara 2008 e 2009 foi estimado em cerca de US$ 11,1 bilhões e US$ 11,2 bilhões, respectivamente.


“Mas, devido à atual crise financeira mundial, não está claro se os doadores honrarão seus compromissos futuros e continuarão aumentando seus níveis de financiamento como nos últimos anos”, diz um novo comunicado divulgado por ocasião da sessão esta semana da Comissão da ONU sobre População e Desenvolvimento. é possível que os números finais para 2008 e 2009 “mostrem baixas nos níveis de financiamento para a assistência em população”, alerta o estudo. A ameaça chega quando a ONU alerta que seus Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, especialmente a redução pela metade do número de pobres e famintos até 2015, podem ser prejudicados pela crise econômica mundial.

Um dos oito Objetivos prevê o acesso universal aos serviços de saúde reprodutiva, junto com uma redução em três quartos da mortalidade materna. As metas de financiamento fixadas pela Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, realizada no Egito há cerca de 15 anos, não cobrem as atuais necessidades, que cresceram drasticamente na última década. A crise da Aids é muito pior do que se previa, enquanto a mortalidade materna e infantil são ainda inaceitavelmente altas em muitas partes do mundo. Além disso, diz o estudo, o valor do dólar é hoje muito menor do que na época em que foi feita a conferência, em 1993.

Essa reunião também fixou a meta de US$ 20,5 bilhões para 2010, mas esta quantia é considerada hoje “simplesmente insuficiente para cobrir as atuais necessidades dos países em desenvolvimento na área de planejamento familiar, saúde reprodutiva, doenças sexualmente transmissíveis, pesquisa básica, informação e análise de políticas sobre população e desenvolvimento”. Foi pedido à Comissão sobre População e Desenvolvimento, que encerra hoje sua atual sessão, que revise e atualize os números, de modo a refletirem os atuais aumentos nos custos da atenção com saúde no mundo.

A diretora-executiva do Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa), Thoraya Ahmed Obaide, disse à IPS que a brecha de financiamento para a saúde reprodutiva, especialmente no planejamento familiar, como parte de toda a ajuda a temas de população, caiu de 55% em 1995, quando somava US$ 723 milhões, para 5% em 2007, apenas US$ 338 milhões.

“Se não for revertido, o baixo financiamento para o planejamento familiar ameaça descarrilar nossos esforços coletivos para alcançar os Objetivos”, disse Obaid. “Não erradicaremos a extrema pobreza, a fome e a desigualdade, nem conseguiremos os demais Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, a menos que seja dada mais atenção aos temas de população e sejam destinados mais recursos e ao poder das mulheres e à saúde reprodutiva, incluindo atenção médica materna e planejamento familiar”, acrescentou.

Atualmente, há cerca de 200 milhões de mulheres no mundo em desenvolvimento que precisam de métodos anticoncepcionais efetivos, especialmente na África. “Agora é tempo de renovar as energias do planejamento familiar voluntário. Não há outro investimento em desenvolvimento que custe tão pouco e traga benefícios tão grandes e de longo alcance”, destacou Obaid. Porém, a presidente da organização Norte-americanos pelo Unfpa, Anika Rahman, afirmou que as últimas ações do Presidente Barack Obama e do Congresso dos Estados Unidos “marcam um forte compromisso com a melhoria da saúde e da dignidade das mulheres no mundo. Espero que o apoio do Presidente Obama ao Unfpa tenha um impacto positivo no compromisso dos governos do mundo com a saúde das mulheres”, disse à IPS.

No mês passado, o Departamento de Estado norte-americano anunciou que contribuiria com US$ 50 milhões para o Unfpa, ou seja, entregaria os fundos congelados há oito anos pelo governo de George W. Bush. A vice-diretora do Programa de Mulheres e População, da Fundação das Nações Unidas, Katherine C. Hall, afirmou à IPS que as metas fixadas pela conferência de 1993 serão revisadas à luz das realidades de 2009. “Ninguém poderia ter previsto a rapidez com que o HIV/aids infectaria várias populações, particularmente mulheres e jovens, nem o custo de tratar os doentes”, acrescentou.

(Envolverde/IPS)

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