domingo, 12 de abril de 2009

Mulheres de Atenas?

Leticia Freire, do Mercado Ético

Os gregos desenvolveram uma civilização que, dois mil anos depois, continua enriquecendo o mundo. Quanto às mulheres, eram contraditórios: veneradas sob a forma de deusas em santuários, elas não tinham nenhum controle sobre seu destino na vida real e estavam a poucos degraus acima do status de escravo.


Os tempos mudaram. Dentro de um contexto secular, o movimento feminista foi um extraordinário despertar de consciência que mudou a estrutura geopolítica do mundo.

Hoje, mais de 40 anos depois do início do movimento libertário, há muito que celebrar. Mas diversas perguntas rodeiam o cenário pós-feminismo: como estão as mulheres hoje? Estão mais felizes? Sentem-se mais compreendidas? O sistema econômico lhes dá real valor? Até onde as mulheres chegaram e até onde ainda devem chegar?

O Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP abriu o ano de debates homenageando as mulheres. Foco do evento (25/03) foi o dilema feminino frente às mudanças do mundo.

Livres, leves e soltas?

Atualmente não basta ser uma mulher independente e bem sucedida. É preciso ser bonita, sexy e estar sempre na moda. Essa pressão tem afetado a saúde física e mental de muitas mulheres ao redor do mundo.

Segundo pesquisa global realizada pela Unilever em 2004, mais de 50 % das mulheres dizem que não gostam do seu corpo. Esses e outros dados alarmantes que retratam a fragilidade psicossocial da mulher contemporânea. Os números indicam também que há ainda um longo caminho a ser percorrido no combate aos estereótipos e à padronização estética que se aproxima de uma verdadeira ditadura da beleza.

A baixa auto-estima e a estereotipação da beleza acompanhou a jornalista e escritora Vera Golik por muito tempo. Ela, assim como muitas mulheres, se sentia “feia e deslocada”, como relatou. Seu dilema se intensificou quando se tornou editora de revistas renomadas de beleza. “Estar ali, falando em como estar mais bonita era difícil. Eu mesma me sentia fragilizada”, conta. “Imagine você que 6 em cada 10 jovens pensam que “seriam mais felizes se fossem mais magras”, reforça.

Mas o padrão de beleza é reforçado pela mídia a cada minuto. “Muitas das modelos e atrizes retratadas na mídia, têm menos 10% de gordura corporal do que uma mulher saudável deveria ter. Isso tem afetado nossas meninas e atingido a sociedade”, diz Vera.

Vera se tornou uma porta voz da autenticidade feminina, lutando contra a estereotipação da beleza. Ela escreveu diversos livros sobre a auto-estima da mulher. Hoje ela integra diversas organizações feministas nacionais e internacionais e sua paixão é a luta pelos direitos humanos das mulheres em todo o mundo. “O problema delas [mulheres] vai além da solução estética. Na verdade elas queriam se sentir melhor, mais confiantes, ter alguma perspectiva na vida”, reforça.

A violência silenciada

Nem mesmo a revolução feminina apagou da humanidade a marca da violência feminina. Dados mundiais alertam que a violência contra a mulher ainda é um sério problema. De acordo com estimativa da ONG Anistia Internacional, pelo menos uma em cada três mulheres ao redor do mundo sofre algum tipo de violência durante sua vida.

Se o problema e mundial, o Brasil não dá bons exemplos a favor das mulheres. Uma pesquisa da Sociedade Mundial de Vitimologia feita em 138 mil mulheres, de 54 países, relatou que a violência doméstica atinge 23% das mulheres brasileiras. “No Brasil, a cada 7 segundos uma mulher é agredida em seu próprio lar e a violência doméstica é a principal causa de morte e deficiência entre mulheres de 16 a 44 anos”, afirmou João Francisco Carvalho Pinto Santos, coordenador da Campanha Bem Querer Mulher.

Para ele, o combate à violência contra a mulher exige mudanças no comportamento da sociedade, pois muitos acabam encobrindo agressões ocorridas à sua volta. Santos, lembra também que a violência não é necessariamente ligada a agressão física. “Muitas mulheres são humilhadas verbalmente todos os dias e se sentem pressionadas psicologicamente a aceitarem esse tipo de agressão por não verem outra saída. Isso não pode acontecer. A mulher é o ponto de equilíbrio da família, portanto esse problema afeta a sociedade como um todo e não apenas o gênero feminino”, afirma Santos.

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