Por Antoaneta Bezlova, da IPS
Ansiosa com o encarecimento dos grãos, a China estuda comprar terras de cultivo no exterior e opor-se a qualquer monopólio internacional, entre outras medidas para garantir no longo prazo a segurança alimentar de seus 1,3 bilhão de habitantes. Já se desfez a proposta da Tailândia feita no início deste mês de criar um cartel do arroz entre os países exportadores para sustentar os preços do grão, especialistas agrícolas chineses alertaram que seu país exerceria pressão contra a iniciativa. Apesar de ser o maior produtor e consumidor de arroz do mundo, a China tem escassa ingerência no mercado arrozeiro mundial. Com o fim de garantir o abastecimento interno, o país reduziu em 2007 suas exportações a apenas 1,34 milhão de toneladas. Sua produção total é de apenas 130 milhões toneladas. “As exportações chinesas de arroz representam apenas 1% de sua produção total, mas, devido ao grande volume produzido e à vasta área cultivada, nenhum país pode se dar ao luxo de ignorar a posição do país na matéria”, disse o especialista em comércio agrícola Bai Yongxia, residente em Xangai. “Se a China acredita que o preço do arroz é manipulado por meio do cartel proposto para servir a certos interesses geopolíticos, não será difícil opor-se”, acrescentou. O encarecimento do arroz, em meio a um fenômeno mundial que inclui os principais alimentos, levou países como Índia e Vietnã a reduzir suas exportações para garantir o abastecimento do mercado interno. Após o anúncio dessas restrições o preço voltou a disparar, o que representou um exemplo do efeito que poderia ter um monopólio do arroz. “Com um produto tão sensível com os grãos, se um país toma medidas protecionistas outros o seguirão”, disse o analista Zhag Xiaobo, do Instituto Internacional para a Pesqusia em Políticas Alimentares, na publicação do 21st Century Business Herald. “Isso torna realmente difícil a formação da Opep do arroz”, acrescentou Zhang se referindo à Organização de Países Exportadores de Petróleo, que, segundo seus críticos, constitui um cartel manipulador de preços. Técnicos chineses alegaram que a proposta da Tailândia de criar um monopólio junto com Birmânia, Camboja, Laos e Vietnã seria desbaratada por suas próprias limitações. “Poucos países apoiariam a proposta, porque os controles de produção e comércio seriam muito difíceis de serem implementados”, disse um especialista da Associação da Indústria de Grãos da China. “A produção arrozeira na Ásia depende de pequenas propriedades agrícolas e milhões de pequenos plantadores, e não podem ser controlados como os países da Opep controlam a produção de petróleo”, acrescentou. A China, que defende a auto-suficiência alimentar para sua vasta população e mantém um teto para os preços dos grãos, até agora saiu indeme da crise alimentar. Enquanto o preço do arroz na Tailândia – maior exportador mundial do produto – mais do que triplicou em apenas seis semanas, os preços internos na China se mantêm estáveis. O governo anunciou que em 2008 manterá a produção de grãos acima de 500 milhões de toneladas para garantir o abastecimento interno. Além disso, garantiu ao público em reiteradas ocasiões que o país tem suficientes reservas para manter os preços estáveis. Pequim também entregou US$ 4,5 milhões ao Programa Mundial de Alimentos (PMA) da Organização das Nações Unidas para ajudar a dar assistência alimentar aos pobres do mundo. Mas, apesar de reiteradas declarações de que o país está bem equipado para enfrentar a crise alimentar que envolve o mundo, o governo continua preocupado co a capacidade da China no longo prazo para dar de comer à sua população. “Agora temos menos espaço para aumentar a superfície semeada com grãos, e fica cada vez mais difícil aumentar o rendimento”, disse esta semana Nie Zhenbang, chefe da Administração Estatal de Grãos, ao jornal em inglês China Daily. Nie mencionou a redução da superfície cultivável e a escassez da água de irrigação como os principais desafios na matéria. Por outro lado, os controles governamentais sobre o preço dos alimentos e sobre os crescentes custos de produção espremeram a margem de lucro para os produtores de grãos da China, fazendo com que muitos se voltem para cultivos mais lucrativos. “Com ganhos tão pequenos e custos tão altos, há poucos incentivos para que os agricultores continuem plantando grãos”, disse Lu Xueyi, especialista agrícola da Academia Chinesa de Ciências Sociais. Para enfrentar os crescentes desafios internos na hora de garantir a auto-suficiência alimentar, Pequim está traçando uma política para incentivar as empresas agrícolas a comprarem terras de cultivo no exterior. Embora os bancos estatais e as empresas de petróleo chinesas tenham feito numerosos investimentos em outros países, fechando contratos para recursos petrolíferos e minerais, até agora houve poucos incentivos oficiais para que as companhias agrícolas chinesas se aventurem no exterior. Mas, empresas chinesas assinaram acordos agrícolas, entre eles concessões de terras em países do sudeste da Ásia e África para cultivar palma de óleo, eucalipto, milho, mandioca, cana-de-açúcar, entre outros produtos. Algumas dessas companhias foram criticadas em vários países por violarem leis, direitos humanos e meio ambiente no processo de adquirir suas concessões de terras. Países ricos em petróleo do Oriente Médio e da África setentrional já se dedicam a investir em operações agrícolas em outros países. Prevê-se que Pequim aprove o plano, apesar de também se aguardar uma contra-ofensiva internacional, disse na sexta-feira o jornal londrino Financial Times, citando uma fonte oficial chinesa não identificada.
(Envolverde/IPS)
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