Carlos Rangel
As mudanças climáticas podem causar fortes perdas no agronegócio brasileiro já a partir de 2020, prevê estudo o "Aquecimento Global e a Nova Geografia de Produção", da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O aumento da temperatura pode gerar perdas financeiras de R$ 7,4 bilhões daqui a 11 anos e quase o dobro, R$ 14 bilhões, em 2070. A geografia da produção agrícola no Brasil pode ser profundamente alterada, informam os pesquisadores.
Paradoxalmente, o agronegócio, uma das áreas que mais devem sofrer com o aquecimento global no País, é a principal responsável hoje pelas emissões de gases-estufa. Cerca de 75% das emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases que causam as mudanças climáticas vêm do desmatamento e das queimadas, procedimentos amplamente usados por pecuaristas, agricultores, madeireiros.
De acordo com o estudo da Embrapa, diversas práticas agrícolas conhecidas podem diminuir as emissões de carbono e aumentar o sequestro de gás da atmosfera, como a integração lavoura e pecuária, a utilização de sistemas agroflorestais e o plantio direto. O estudo informa que a agricultura, o aquecimento global e os danos que as mudanças climáticas devem causar na produção agrícola mundial compõem um importante ciclo de causas e efeitos relacionados.
A soja pode sofrer as maiores perdas, 21,6%. O café terá uma redução de quase 10% de área em 12 anos, tornando inviável a sobrevivência no Sudeste, enquanto a mandioca pode desaparecer da região do semiárido. No Sul, "restrita a culturas adaptadas ao clima tropical por causa do alto risco de geadas, deverá experimentar uma redução desse evento extremo, tornando-se assim propícia ao plantio de mandioca, café e cana-de-açúcar, e não mais ao da soja, uma vez que a região deve ficar mais sujeita a estresses hídricos". E a cana-de-açúcar pode se espalhar pelo País e quase triplicar a área dos atuais 6 milhões para milhões para 17 milhões de hectares, rendendo R$ 27 bilhões mais que a safra de 2006.
No cenário, que parece desolador, algumas perdas podem ser inevitáveis, porque o País só agora atenta para a vulnerabilidade, mas ainda não tomou as atitudes para evitar os impactos. Sem medidas para reduzir os efeitos das mudanças climáticas e adaptar as culturas à nova situação, deve ocorrer uma migração de plantas para regiões em busca de condições climáticas favoráveis.
Para o pesquisador da Embrapa e autor do estudo, Eduardo Assad, o mais importante é investir em pesquisa. "Sem isso, não adianta querer mudar simplesmente de um local para outro. É preciso planejamento", afirma. Pesquisas da Embrapa, de empresas estaduais de pesquisa e de universidades brasileiras vêm buscando soluções. Em termos de adaptação, variantes genéticas de soja, milho, feijão, café, mandioca e algumas frutas mais tolerantes às altas temperaturas e escassez de água estão sendo desenvolvidas em laboratório.
Veja as principais estimativas de perdas:
Soja - R$ 4 bilhões - Perda = -21,6%
Milho - R$ 1,2 bilhão - Perda = - 12%
Café - R$ 638 milhões - Perda = - 6,75%
Arroz - R$ 368 milhões Perda = - 8,50%
Feijão - R$ 154 milhões - Perda = - 4,30%
Mandioca R$ 109 milhões - Perda = - 2,50%
Só está previsto ganho na cana-de-açúcar ~- R$ 29 bilhões - Ganho = 183%
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