Fonte: Agência FAPESP - (09/01/2009
O acelerado aumento nas temperaturas afetará seriamente a agricultura no planeta, especialmente nas regiões tropicais e subtropicais. Se nada for feito, até o fim do século pelo menos metade da população mundial terá que enfrentar uma drástica falta de alimentos.
A afirmação é de um estudo publicado na edição de 9 de janeiro da revista Science por David Battisti, professor do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de Washington, e Rosamond Naylor, diretor do Programa de Segurança Alimentar e Ambiental da Universidade Stanford, ambos nos Estados Unidos.
O impacto do aquecimento global na agricultura deverá afetar particularmente as regiões mais pobres e que apresentam as maiores taxas de crescimento populacional.
“Os efeitos apenas da temperatura na produção global de alimentos serão enormes, isso sem levar em conta as fontes de água impactadas pelo aquecimento”, disse Battisti.
“Precisamos investir na adaptação. Está claro que essa é a direção em que estamos indo, em termos de temperatura, e serão necessárias décadas para desenvolver novas variedades de cultivos que possam enfrentar melhor um clima mais quente”, disse Naylor.
Ao combinar observações diretas com dados de 23 modelos climáticos globais - produzidos no âmbito do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) -, Battisti e Naylor concluíram que há uma probabilidade superior a 90% de que em 2100 as menores temperaturas durante os períodos de cultivo nas regiões tropicais e subtropicais serão maiores do que qualquer temperatura registrada até hoje nas mesmas áreas.
Segundo o estudo, nos trópicos as temperaturas mais altas deverão reduzir a produção de grãos primários, como milho e arroz, de 20% a 40%. Mas o aquecimento deverá prejudicar também a umidade do solo, o que levaria a uma diminuição ainda maior na produção.
“Temos que repensar os sistemas agrícolas como um todo e não apenas buscar novas variedades, além de reconhecer que muitos deixarão de ser agricultores e abandonarão as terras onde vivem e trabalham”, disse Naylor.
Atualmente, cerca de 3 bilhões de pessoas vivem nas regiões tropicais e subtropicais, um número que deverá dobrar até o fim do século.
O artigo Historical warnings of future food insecurity with unprecedented seasonal heat, de David Battisti e Rosamond Naylor, pode ser lido por assinantes da Science.
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